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Andam de bicicleta com os pacotes das entregas às costas. A proposta dos Camisola Amarela é simples: “O mesmo serviço [que as motos], no mesmo tempo, mas ecológico”. Dizem que são os primeiros estafetas de bicicleta de Lisboa e nos próximos meses querem chegar a pelo menos dez grandes empresas, convencendo-as não só pelo preço dos seus serviços, mas também pelos quilos de dióxido de carbono que deixam de ser emitidos.

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Jotta tem de estar no Chiado às 11h. Já faltam poucos minutos quando sai, camisola e mochila amarelas e bicicleta tipo fixed gear – os pedais acompanham sempre o movimento das rodas e sem travões, é daquelas “só para artistas”. E há-de chegar a horas. Ir da Av. Sidónio Pais ao Café Brasileira não é nada para este Camisola Amarela. Estes são – apregoam os próprios – os primeiros estafetas de bicicleta de Lisboa (esquecendo os boletineiros da Marconi, que distribuíam telegramas até à década de 1970) e, dizem, o negócio está a resultar. Próximo objectivo: chegar a dez grandes empresas nos próximos meses.

São 15 estafetas, ao todo, e organizam-se por turnos. Jotta também estuda e tatua. À excepção de Pedro Ventura, que fundou o serviço Camisola Amarela, e de Ricardo Flores, que recentemente largou o trabalho que tinha para se dedicar a tempo inteiro a este projecto, todos têm outras ocupações. 
Há dois anos e meio, quando tudo começou, eram apenas dois. Trabalhavam a partir de casa e muitos dos pedidos eram para entregar flores ou bombons a namoradas. Mas a marca Camisola Amarela foi crescendo. O número de clientes e serviços foi, “em média, duplicando a cada mês”, conta o ciclista. E foram chegando às empresas.
Um dia perguntaram a Rui Monteiro, director comercial da Solve Consulting, uma empresa de consultoria na área da indústria farmacêutica: “Não tens interesse em proteger o ambiente?” Ele disse que sim e trocou as motos pelos Camisola Amarela. Foi a primeira empresa para a qual trabalharam, conta Ricardo. Dois anos depois, continua a recorrer aos serviços dos estafetas de bicicleta numa base diária. 
“Os preços são semelhantes [aos praticados pelas empresas que se deslocam de moto], por isso é o mínimo que podemos fazer pelo planeta”, diz Miguel Pina Martins, da Science4You, uma empresa de brinquedos científicos, também cliente dos Camisola Amarela.
Hoje, frisa Pedro, 95% dos dez a 20 serviços diários são prestados a empresas. Um número que acreditam que vá aumentar nos próximos meses, agora que se mudaram de um espaço de trabalho partilhado na Lx Factory, em Alcântara, para um próprio, no centro de Lisboa, e criaram uma empresa, a Seven Wheels, à qual associaram a marca Camisola Amarela. 
“Este novo espaço tem a ver com a dinâmica do negócio”, explica Pedro. “É necessário porque o volume de entregas vai aumentar, mas também porque queremos criar uma outra dinâmica de associação da bicicleta à arte e a eventos.” O novo espaço será também galeria de arte e haverá uma programação, com lugar para encontros, actuações ou lançamentos de livros [ver caixa].
“O nosso objectivo é entrar nas grandes empresas com um produto válido”, diz Ricardo Flores, que tem como objectivo chegar a dez grandes empresas nos próximos quatro meses. “Mas já temos tudo estudado para lá chegar”, garante. “Não é só dizermos que somos estafetas ecológicos. Vamos ter uma plataforma, fazer uma avaliação das emissões de CO2 das empresas”, exemplifica. Por ora, o negócio, dizem, “não é para riquezas, mas é sustentável”.
“O país está em crise mas continua a haver muitas necessidades, não há volta a dar”, acredita Pedro. “A alternativa que oferecemos é mesmo esta, a bicicleta.” Transportam o que for preciso. “Até dinheiro, mas muitas vezes nem sabemos o que é que lá vai dentro.”
Os preços variam entre 4,5 euros, valor de uma entrega normal, que demora até quatro horas, e 9 euros, para entregas mais urgentes, com tempo máximo de espera de uma hora. O serviço expresso, até duas horas, custa 6,5 euros. Como se deslocam de bicicleta, os objectos a transportar não podem pesar mais do que 4kg, nem ocupar mais espaço do que quatro dossiers A4. Pedro explica que, muitas vezes, os serviços de prioridade “normal” são feitos dentro de uma ou duas horas. 
A atravessar a cidade dizem levar 25 minutos. “Não queremos estar a combater com as motas para sermos mais rápidos, não queremos essa disputa”, esclarece Ricardo. O que eles propõem é simples: “O mesmo serviço, no mesmo tempo, mas ecológico.” De acordo com um relatório da Off7, uma empresa criada para contribuir para uma economia de baixo carbono em Portugal, se a Camisola Amarela recorresse a motos em vez de bicicletas seria responsável pela emissão de mais 1300 a 1700kg de dióxido de carbono por ano. Isto com base no volume de serviços de 2010. Ano em que a Camisola Amarela foi, aliás, distinguida pelos Green Project Awards com uma menção honrosa.
Novidade em Portugal, os estafetas de bicicleta já há muito pedalam por outras cidades europeias. Só em Espanha, por exemplo, há 15 empresas do género, contabiliza Pedro, que há dois anos e meio decidiu adaptar a Lisboa um modelo que conhecia de outros lugares. Na altura surgiram com o lema Yes, we cycle (sim, nós pedalamos), já antecipando algumas reacções.
Hoje ainda há quem diga, quando se cruza com eles num serviço: “De bicicleta? Coitado.” Ou quem pergunte: “Mas vocês conseguem fazer isto para hoje ainda?” E o ciclista desabafa: “Muitas pessoas não têm noção do que é andar de bicicleta.”

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