Maria Martins disse que é “difícil de acreditar” que é “a terceira melhor do mundo” no concurso olímpico do omnium, em que foi bronze nos Mundiais de pista a decorrer até domingo em Saint-Quentin-en-Yvelines.
“É difícil de acreditar, na verdade. Só posso agradecer às pessoas que estão ao meu lado. (…) Vai ser difícil de digerir. É o omnium, uma disciplina olímpica, no escalão mais de topo. Sou a terceira melhor do mundo… é difícil acreditar que é verdade”, atirou, pouco depois de saborear na pista, depois da quarta e última prova do concurso, a chegada ao pódio.
A portuguesa somou, ao todo, 99 pontos, conseguindo novo bronze em Mundiais de elite, depois de ter sido terceira na corrida de scratch do campeonato do mundo de 2020, e conseguiu nova medalha para Portugal, menos de uma hora depois do terceiro lugar de Ivo Oliveira na perseguição individual.
O título mundial foi para a norte-americana Jennifer Valente, campeã olímpica do omnium em Tóquio2020, em que Maria Martins foi sétima, somando 118 pontos, com a neerlandesa Maike van der Duin no segundo posto, com 109.
É o segundo pódio da sua carreira em Mundiais de elite, o que representa 40% das medalhas que Portugal tem nestes campeonatos, um total de cinco. Outros 40% são de Ivo Oliveira, que juntou à prata de 2018 um bronze na perseguição individual, num dia ‘de sonho’ para a comitiva.
Nesta corrida, a consistência que sempre lhe valeu bons resultados, mas “a bater um bocado na trave” no que a ‘metais’ diz respeito, finalmente compensou e trouxe-lhe mais um objeto ‘reluzente’ para pendurar ao pescoço.
“Sempre me disseram que há que confiar no tempo, no processo, e espero que seja só o princípio de coisas muito bonitas que aí vêm”, atira.
A conversa com os jornalistas é interrompida pela vitória de Mathilde Gros no sprint, o primeiro ouro da França a correr ‘em casa’, o que arranca das bancadas repletas do velódromo um barulho ensurdecedor, que foi crescendo ao longo da corrida.
“Este ambiente deu-lhe meia pista, em força”, comenta a portuguesa.
“Disse aos meus colegas que uma eliminação não é uma verdadeira eliminação sem uma queda. Infelizmente, habituei os portugueses a terem ataques cardíacos pela televisão, peço desde já desculpa por isso”, brinca.
Como considera reagir “muito bem às adversidades”, de quedas a outras mazelas, chegou ao pódio, o que é sempre “portador de bons momentos”, mesmo que queira também “desfrutar do caminho até lá”.
“As adversidades, os bons e os maus, faz tudo parte da caminhada. Tenho um grande suporte psicológico por detrás e tenho de agradecer a essas pessoas que estão sempre lá e não duvidam de mim nunca, com ou sem medalhas. Vivo para o desporto, o ciclismo tem o meu coração, e nomeadamente a pista”, comentou.
O selecionador, Gabriel Mendes, viu o grupo que orienta conseguir duas medalhas, de um total de cinco em todas as edições de Mundiais, em menos de uma hora, e mostrou-se “extremamente orgulhoso” com o trabalho da portuguesa.
“Foi uma prova duríssima, com uma qualidade de nível de Jogos Olímpicos. Fazer terceiro lugar num Mundial, numa disciplina com a dureza que esta tem, é um motivo de orgulho para todos nós, e reflete que todo o trabalho que a Maria e a equipa, no global, tem feito para chegarmos a este nível”, comenta.
Neste “processo de a pouco e pouco ir aprendendo para ir melhorando”, Maria Martins mostrou “saber ultrapassar adversidades” e também “melhorias significativas” relativamente a outros omniums que disputou.
“Estou bastante satisfeito e orgulhoso. Há coisas a melhorar, mas agora é o momento de festejar, porque foi fantástico”, atira.
Estar entre as melhores “mostra a qualidade” que tem, considera a própria, que vê para si que o futuro possa “ser bastante bonito”, numa carreira que, aos 23 anos, está já repleta de feitos: duas medalhas em campeonatos do mundo, outras duas em Europeus, e um sétimo lugar em Tóquio2020, inédita – e única – participação olímpica de um ‘pistard’ português.
“Se amanhã deixasse o ciclismo, já estaria bastante satisfeita, mas isso não vai acontecer. Estou aqui para viver os momentos e a melhor vida que eu possa viver”, remata.
Ivo Oliveira disse que seria “difícil dormir”, prometendo um brinde, mas ‘Tata’ Martins, da Moçarria, Santarém, para o mundo, só quer mesmo “chegar ao hotel e abraçar os companheiros de equipa”.
“Depois, no domingo, haverá bastantes brindes. Seja vinho, cerveja, champanhe… o que seja. Têm sido uns Mundiais incríveis, e ainda não terminámos”, avisa.
Portugal está representado em Saint-Quentin-en-Yvelines por Ivo Oliveira, Rui Oliveira, João Matias, Maria Martins e Daniela Campos, num Campeonato do Mundo que decorre até domingo no mesmo velódromo que vai acolher a especialidade nos Jogos Olímpicos Paris2024.