A liderança de João Almeida na Volta a Itália em bicicleta e a nona etapa conquistada por Ruben Guerreiro mostram como ambos ainda “têm muito para dar” ao ciclismo português, vincou hoje selecionador nacional de estrada.
“Temos de acreditar na nossa juventude e potencial. Nunca temos muitos corredores, mas temos alguns bons, como sempre tivemos, que colocaram Portugal no plano mais alto do desporto. Num ano tão mau como este em todos os setores, tivemos aqui alguns dos momentos mais altos da modalidade”, reconheceu José Poeira.
João Almeida, de 22 anos, tem abrilhantado o ano de estreia no escalão WorldTour, ao manter a liderança da geral individual por sete dias consecutivos e vestir, por inerência, a camisola branca do prémio da juventude, superando a marca fixada por Acácio da Silva em maio de 1989, quando conservou a ‘maglia’ rosa durante duas etapas.
“Está a surpreender muita gente porque está bem, mas tem uma força interior enorme. Superar as expectativas fará com que a equipa acredite nele como uma aposta de futuro. Ao ganhar mais maturidade e resistência nos próximos anos, as suas capacidades vão melhorando e a maneira de correr irá dar-lhe mais consistência”, avaliou o técnico.
O ciclista dos belgas da Deceuninck-Quick-Step chega ao primeiro dia de descanso da habitual prova primaveril, recalendarizada em 2020 devido à pandemia de covid-19, com 1.416 quilómetros percorridos em 35:35.50 horas, menos 30 segundos que o holandês Wilco Kelderman (Sunweb), antes de etapas propícias a chegadas em pelotão.
“Cada dia é um dia, mas cada dia é uma vitória. Sendo um miúdo, lida bem com a pressão e isso está no talento dos grandes campeões. Uma coisa é uma prova de um dia, outra é estar uma série de dias com uma camisola rosa. A comunidade internacional está de olhos postos no João, que vem mostrando ter outra grande qualidade”, frisou.
José Poeira acredita que o corredor natural das Caldas da Rainha tem potencial para defender a liderança no contrarrelógio individual de sábado e arrastá-la até à última semana, quando poderão surgir ciclistas “que não se manifestaram muito até aqui” e reservaram energias para atacar as derradeiras etapas montanhosas no norte de Itália.
“Prevê-se que possa estar mau tempo e haja muita neve nos pontos mais altos, o que poderá cortar uma etapa ou algumas partes de etapas. Isso pode não ser mau para ele, mas veremos como encara a última semana, que às vezes é complicada para muitos corredores. A história tem dito isso, mas esperemos que continue assim”, afiançou.
Ao lado do campeão nacional de contrarrelógio e de fundo sub-23 em 2019 desponta o compatriota Ruben Guerreiro, que conquistou no domingo a nona etapa do Giro, após cumprir os 207 quilómetros entre San Salvo e Roccaraso em 5:41.20 horas, vencendo nos metros finais a oposição do espanhol Jonathan Castroviejo (INEOS), a oito segundos.
“Tinha falado com ele dois dias antes e sabia que ia apostar nesta etapa. Não foi fácil e teve de cerrar bem os dentes. Escolheu uma etapa boa e dura para mostrar que conseguiu ser o melhor perante corredores de grande valor. Se estivesse a lutar pela geral, poderia acabar este Giro no ‘top-10’, mas são opções da equipa”, notou.
Aos 26 anos, o ciclista da formação norte-americana Education First fez recordar os cinco triunfos obtidos por Acácio da Silva nas edições de 1985, 1986 e 1989 da Volta a Itália, tornando-se o 12.º português a brilhar numa das três principais provas velocipédicas, tal como Joaquim Agostinho, Sérgio Paulinho, Rui Costa ou José Azevedo.
“Ontem [domingo] foi realmente um dia muito importante. A par de muitas outras conquistas, ficará para a história. Há algum tempo que não tínhamos um nível tão alto e um dia tão importante. Além da liderança de vários dias, que tem prendido as pessoas à televisão e emocionado o país, tivemos um pódio quase português”, elogiou José Poeira.
O corredor oriundo do Montijo, campeão nacional de fundo sub-23 em 2016, ocupa a 31.ª posição global, a 16.26 minutos, e amealhou pontos suficientes para deter a camisola azul da montanha, sendo “capaz de voltar a fazer” a proeza obtida na região de Abruzzo, embora aviste concorrentes mais precavidos para o seu perfil competitivo em fuga.
“O João e o Ruben cresceram, foram procurados pelas melhores equipas e são reconhecidos pelo seu talento. Por vezes, há momentos menos bons ou azares que não deixam concluir o resultado, mas sabemos o valor deles e o azar nunca há de vir sempre. As coisas não acontecem por sorte e eles têm grande vontade de vencer”, concluiu.
A 103.ª edição da Volta a Itália cumpre hoje o primeiro dia de descanso e regressa na terça-feira, com a 10.ª etapa, que liga Lanciano a Tortoreto em 177 quilómetros.