Uma queda à entrada do último quilómetro ‘abriu’ caminho para a vitória de Alberto Dainese na 19.ª etapa da Volta a Espanha, com o ciclista italiano da DSM-firmenich a negar o triunfo ao recém-descoberto sprinter Filippo Ganna.
Quando se esperava que Kaden Groves (Alpecin-Deceuninck) conquistasse a sua terceira tirada nesta edição, para distanciar-se de Remco Evenepoel na luta pela classificação por pontos, o australiano ficou envolvido numa queda – não chegou a cair, facto aproveitado por Dainese para somar a sua segunda vitória numa grande Volta esta temporada, depois de ter também ganhado a quinta etapa do Giro.
O italiano de 25 anos ultrapassou sobre a linha de meta o compatriota Filippo Ganna, convertido em improvável sprinter da INEOS, e o neerlandês Marijn van den Berg (EF Education-EasyPost), num sprint em que os portugueses Rui Oliveira (UAE Emirates) e André Carvalho foram, respetivamente, 11.º e 12.º, com as mesmas 3:42.09 horas do vencedor.
“Penso que tive muito azar em perder os meus colegas na queda, mas naquele momento estava na posição perfeita, onde queria estar. Sabia que estava vento de frente, deixei o Ganna e os outros sprintarem um pouco antes e esperei pelo meu momento. Estou superfeliz por ter finalizado o grande trabalho” do seu ‘comboio’, notou Dainese, satisfeito por terminar o seu percurso na DSM-firmenich – vai para a Tudor no próximo ano – “de uma boa maneira”.
Se hoje o italiano se sentiu “pressionado para ganhar”, o mesmo não se pode dizer de Sepp Kuss, com o ciclista norte-americano a ter, finalmente, um dia tranquilo e a manter os 17 segundos de vantagem sobre o dinamarquês Jonas Vingegaard e os 1.08 minutos sobre o esloveno Primoz Roglic, seus colegas na Jumbo-Visma e os homens que o sucedem na geral.
Na véspera do derradeiro dia decisivo da 78.ª edição da prova espanhola, os ‘anónimos’ Clément Davy (Groupama-FDJ), Paul Lapeira (AG2R Citroën), Mathis Le Berre (Arkéa Samsic) e Michal Schlegel (Caja Rural) aventuraram-se numa fuga sem futuro logo nos primeiros 10 quilómetros dos 177,5 quilómetros essencialmente planos entre La Bañeza e Íscar.
Não era difícil adivinhar que os fugitivos não iriam longe – tiveram uma vantagem máxima de três minutos –, uma vez que Kaden Groves tinha reconhecido, antes do início da 19.ª tirada, estar preocupado com a defesa da liderança da camisola verde, após a aproximação de Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step).
Assim, a Alpecin-Deceuninck assumiu a perseguição, na companhia da UAE Emirates, apostada em levar Juan Sebastián Molano à segunda vitória em etapas nesta edição, mantendo os escapados sempre a uma margem de segurança, que, a 40 quilómetros do final, já só rondava os 20 segundos.
Davy ainda tentou distanciar-se dos seus companheiros de jornada, mas acabaria alcançado nos derradeiros 20 quilómetros, já depois de passar na frente no sprint intermédio, onde Groves foi segundo para consolidar o primeiro lugar na classificação por pontos.
Anulada a fuga, Samuele Battistella (Astana) lançou-se à aventura em solitário, numa missão ‘impossível’ que acabaria ainda antes dos últimos 10.000 metros finais, nos quais as equipas da geral assomaram à frente do pelotão para evitar que os seus líderes corressem riscos.
Mas a desinteressante 19.ª etapa – a Vuelta é, efetivamente, a mais aborrecida das três grandes Voltas – teve um infeliz momento de ‘emoção’, quando uma queda derrubou meia dúzia de ciclistas, maioritariamente da DSM-firmenich, e afastou Groves da discussão.
Sem ‘comboios’ organizados, a aproximação à meta foi feita com cada um por si, com Ganna novamente a explorar a faceta de sprinter e a perder, por pouco, com Dainese. “Hoje, os rapazes foram fantásticos. Foram para a frente do pelotão e fizemos um trabalho perfeito. Infelizmente, não sou um sprinter e lancei-me demasiado cedo. Perco outro sprint por muito pouco”, lamentou o contrarrelogista italiano, que esta temporada tem tentado descobrir novos caminhos na sua carreira.
Enquanto Rui Oliveira e André Carvalho ficaram próximos do top-10 da etapa, Nelson Oliveira (Movistar) foi 32.º, Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) 88.º e João Almeida (UAE Emirates) 98.º, todos com o mesmo tempo do vencedor.
Assim, Almeida manteve o nono lugar na geral, a 10.20 minutos de Kuss, numa classificação em que Rui Costa e Nelson Oliveira conservaram os mesmos lugares: o primeiro é 46.º, a 2:09.57 horas, e o segundo é 51.º, a 2:14.12.
Carvalho subiu dois lugares, para 137.º, a 3:57.09 horas de Kuss, enquanto Rui Oliveira continua a ser o lanterna-vermelha desta 78.ª Vuelta, a 4:16:53 do camisola vermelha, que, no sábado, enfrenta o derradeiro teste à sua liderança nos 207,8 quilómetros entre Manzanares El Real e Guadarrama, com uma dezena de contagens de montanha de terceira categoria.