Hoje, no BTT Lobo, vamos falar daquela bicicleta que tivemos a hipótese de testemunhar o seu lançamento em primeira mão e que no imediato, este que vos escreve pensou: ora aí está algo que marca a diferença! Falo-vos como é óbvio do desenho de quadro de suspensão total, que considero fenomenal.
Falamos, portanto, da Trek Supercaliber, lançada no Trek World Iberia em 2020 e que desde o dia do seu lançamento tem dividido opiniões.
A Trek apresenta a Supercaliber, como sendo a sua arma para o XCO. Uma bicicleta que não assenta na categoria das bicicletas semirrígidas, mas também não se insere na categoria de suspensão total de forma “religiosa” e tão profundamente como as restantes, isto devido aos apenas 60mm de curso de suspensão traseira.
Certo é, que hoje em dia, as pistas de XCO estão cada vez mais desafiantes, contudo há ainda que encontrar o ponto certo entre a capacidade de pedalar subida acima, reatividade e capacidade de enfrentar drops e rockgardens, entre os muitos obstáculos que se nos apresentam pela frente.
Se nos perguntarem se escolheríamos a Supercaliber para desafios de dias inteiros e/ou vários dias seguidos, possivelmente diríamos que se encontra algo mais indicado. Mas… Não foi para isso que ela foi concebida. No entanto, para a grande maioria dos utilizadores de bicicleta que participam em eventos de XCO/XCM e que fazem até 4 ou 5h de pedalada, em eventos de uma etapa, sim… Sem dúvida que escolhemos a Supercaliber.
Numa altura em que cada vez mais as bicicletas de suspensão total de cross country pendem para cursos de suspensão de 120mm, com tudo o resto que isso acarreta, como peso, comportamento, ou pura e simplesmente falta de espaço para um segundo bidão de água nalgumas construção.
A Supercaliber mantém os costumeiros 100mm de curso na frente e utiliza o seu inovador sistema de suspensão traseiro IsoStrut, com 60mm de curso e umas escoras superiores sem pivot e flexíveis, que auxiliam na absorção das irregularidades do terreno, mesmo quando levamos a suspensão bloqueada, reduzindo aqui um pouco o peso total da bicicleta.
De facto, um dos factos notórios na Supercaliber é o seu comportamento com a suspensão bloqueada. Torna-se efetivamente uma bicicleta rígida, muito rápida e reativa, mantendo-se, no entanto, confortável e com a aderência suficiente ao chão quando o piso fica de repente mais irregular.
O modelo que testámos e abusámos, é a Trek Supercaliber 9.7, que conta com um quadro completamente em Carbono OCLV Mountain Boost 148, que trás equipado na sua traseira o amortecedor IsoStrut Fox Performance de 60mm e na frente uma RockShox Reba de 100mm Boost 110 ambos com bloqueio remoto (coisa que nalguns modelos anteriores, nas montagens de entrada não existia) e que embora não seja um topo de gama, dispensa apresentações e faz o seu trabalho na perfeição, a custas apenas de um pouco mais de peso para as gamas superiores.
Quanto à capacidade deste sistema de quadro/suspensão para enfrentar os mais técnicos percursos de XCO, basta vermos um Mundial ou uma Taça dessa modalidade e qualquer dúvida que possa existir desvanece-se.
Quanto ao restante equipamento, a nível de transmissão, a Supercaliber 9.7 apresenta um pedaleiro E*thirteen Helix de alumínio, um shifter SLX e um desviador traseiro XT de 1×12, já sobejamente conhecidos e extremamente fiáveis, acompanhados por uns travões hidráulicos Shimano de gama baixa que ainda assim cumprem com a sua função juntamente com um disco de 180mm na frente e um de 160mm atrás.
No cockpit, como já é habitual, temos um desenho Straight Shot, que melhora a relação rigidez/peso e torna a condução da bicicleta mais reativa e precisa, enquanto que a introdução do Knock Block evita a sobreviragem da direção.
No restante cockpit, bem como nos restantes periféricos a Supercaliber 9.7 equipa componentes da Bontrager, também eles de gama baixa, como o espigão, selim, guiador e avanço, dando, no entanto, o merecido destaque aos punhos ESI Grips Chunky, que já conhecemos há alguns anos e que são do mais confortável que já usámos.
Para compensar os periféricos e pedaleiro em alumínio, locais onde o comprador pode posteriormente ir tirando umas boas centenas de gramas à bicicleta com upgrades, como por exemplo com o guiador/avanço integrados Bontrager MBT RSL ou o selim Bontrager Aeolus, a Supercaliber equipa algo que não se encontra muito, dentro do seu preço/gama, que são as rodas tubeless Bontrager Kovee Elite 30, também elas em Carbono OCLV Mountain e com cubos de rolamentos selados.
As Bontrager Kovee Elite 30 trazem montados uns pneus também eles Bontrager, os XR2 Team Issue, com paredes laterais Inner Strength, na medida 2.20″, que no nosso caso, foram o ponto mais fraco da bicicleta sendo que acabámos a furar quase em todas as saídas.
Para informação extra, a Trek informa no site que a largura máxima de pneus para o quadro é 2.20″, no entanto, tivemos também equipados pneus 2.40″ sem qualquer problema e ainda com alguma folga.
Sentimos falta de um espigão telescópico pois, sendo uma bicicleta concebida para percursos técnicos, consideramos uma mais valia e é algo que encontramos já equipado em bicicletas de outras marcas na mesma gama.
No que toca ao peso, dentro também da sua gama, enquadra-se com as restantes, apontando o ponteiro da balança para os 12.2kg no tamanho XL, como líquido selante, mas sem pedais nem grades de bidon, podendo esse peso, como dissemos acima, ser facilmente reduzido.
Comparativamente com bicicletas de outras marcas dentro do mesmo patamar, a Supercaliber 9.7 está dentro dos seus pesos e a um preço mediano, ficando apenas um pouco aquém no que toca ao equipamento pois, apesar de contar com rodas de carbono, os periféricos e os travões são de gama baixa e não conta com um espigão telescópico.
Quanto à sua utilização, achamos de facto que a Supercaliber é uma “faz tudo”, capaz de proporcionar diversão e confiança nos mais variados terrenos e tipos de percurso, colocando-nos de parte a dúvida de levar uma semirrígida ou uma suspensão total para o dia da prova, a não ser que sejam tiradas muito grandes e/ou de vários dias, onde o conforto extra de um pouco mais de curso, é sempre bem-vindo.
O valor da Trek Supercaliber 9.7 (o segundo mais baixo da gama Supercaliber) que está disponível em 3 esquemas de cores é de 4629€, sendo que o modelo seguinte, custa 6699€, deixando à consideração do comprador se tem a possibilidade de despender logo à partida dessa diferença monetária, ou se opta por a ir gastando à medida que os seus bolsos deixam, em melhorias futuras.
Para terminar: achamos a bicicleta linda e… leva dois bidons de água! Mais info em www.trekbikes.com.
