A Volta a Portugal feminina, cuja segunda edição vai para a estrada de quinta-feira a domingo, ajudou a lançar atletas para o estrangeiro, trouxe renovada dedicação ao ciclismo a outras e conduziu a uma subida de nível do pelotão.
A Lusa ouviu várias ciclistas que foram de uma ou outra forma ‘marcadas’ pela edição pioneira da Volta, defendendo todas elas que a corrida é importante para a evolução do nível do ciclismo feminino no país.
“É óbvio que eu fiquei muito feliz, não só pela minha vitória, mas pelo facto de estarmos na primeira edição, e ser possível realizar esta Volta a Portugal. Isso teve resultados ótimos na minha carreira, porque depois disso, e de tudo o resto que fiz em 2021, que foi quase um ano perfeito, assinei contrato com uma equipa profissional”, explica Raquel Queirós.
A atleta olímpica estreou-se nos Jogos em Tóquio2020, no ‘cross country’, no mesmo ano em que, pouco depois, venceu a primeira edição da Volta a Portugal, acabando por ‘saltar’ para a MMR Factory Racing, de Espanha.
“A Volta a Portugal ajudou muito a outras equipas verem e mostrar que não sou apenas uma atleta válida no ciclocrosse, mas também na estrada”, resume.
Quanto à segunda edição, em que estará ausente, espera “que corra melhor do que a primeira” e que o público “saia ainda mais à rua para aplaudir”, desta feita com um prólogo e três etapas a ligar Loures a Anadia de quinta-feira a domingo.
“E, obviamente, espero que ganhe uma portuguesa. Se é a Volta a Portugal, e com tanto talento que temos, acho que era bonito. […] O ano passado foi o primeiro ano que vimos sair tantas atletas portuguesas para boas equipas. Já tínhamos a ‘Tata’ [Maria Martins, outra ciclista olímpica], a Daniela Campos e mais algumas, mas estas jovens têm talento, trabalham muito. E há muitas mais”, atira.
A pensar em pontos para voltar aos Jogos Olímpicos em Paris2024, bem como num ‘top 5’ em Taças do Mundo, no seu último ano de sub-23, Raquel Queirós verá de fora talentos como Mariana Líbano (Velo Performance), outra ‘híbrida’ entre estrada e ciclocrosse, competirem num “palco muito bom para mostrarem o que valem”.
Um dos exemplos de jovens talentos a dar cartas lá fora é Sofia Gomes, que, aos 18 anos, é a ‘herdeira’ do dorsal número um para a segunda edição, depois de em 2021 ter sido segunda na geral final, vencendo a juventude.
A estudante de Farmácia Biomédica em Coimbra, onde vive, explica à Lusa que a mudança de equipa, para a espanhola Massi Tactic, a coloca “noutro nível”, a de equipa continental UCI.
“Tenho outro encargo dentro da equipa, que pode basear-se em trabalhar para uma outra colega ou obter um resultado específico. Isso ainda é uma incógnita”, comenta.
Mesmo que “a nível pessoal” não se importasse de disputar a vitória final, e “principalmente a juventude, porque é um objetivo mais realista”, a equipa poderá colocá-la noutras funções.
Da primeira Volta, agradece “o rendimento” que ganhou “em termos de forma física e experiência”, a que se seguiram bons resultados em Europeus e Mundiais jovens.
Agora, tem visto um “processo que demora, progressivo”, mas a colocação de atletas no estrangeiro mostra que o país “está a evoluir cada vez mais” no ciclismo feminino, o que também se vê “nos escalões de juniores e cadetes”.
“As gerações começam a melhorar, no futuro teremos mais atletas no estrangeiro, e trará melhor nível para Portugal. A realização da Volta, e [o facto de] este ano ter mais cidades, mais equipas estrangeiras, também é um passo enorme”, considera.
A ainda jovem carreira tem tido em 2022 um capítulo de “desafio”, ao trabalhar para atletas mais experientes em corridas como a Volta ao País Basco e outras em Espanha, com a equipa a dar-lhe oportunidades que lhe permitem “aprender e fazer algum trabalho”.
Com os Europeus na mira, até porque são precisamente na cidade de Anadia onde termina a Volta, não enjeita também os Nacionais, uma semana depois desta corrida.
A edição pioneira teve um impacto diferente em Vera Vilaça, já mais ‘experiente’, mesmo que nascida em 1998, mas no triatlo, a modalidade em que acolheu sonhos olímpicos até 2021.
Aí, foi quarta classificada na Volta, e esse resultado “foi um fator importante” na decisão de apostar, a ‘full time’, só no ciclismo a partir de 2022.
“Apercebi-me que, para além de me dar bem nestas provas, era algo que me dava muito gosto. Desde o início do ano que me comecei a focar no treino de ciclismo, [a Volta] é o meu principal objetivo, foi para isso que estive a trabalhar”, afirma à Lusa.
Na segunda edição, espera uma corrida “mais disputada do que no ano passado”, querendo este ano chegar à amarela no seio de nova equipa, a Velo Performance, que conta também com Mariana Líbano e a britânica Lucy O’Donnell, parte do ‘esforço’ vencedor de Raquel Queirós.
“Esta Volta vai ter mais participantes e sinto que estamos num momento de crescimento exponencial do número de participantes e do nível do ciclismo feminino”, acrescenta.
A segunda edição da Volta a Portugal feminina regressa de quinta-feira a domingo com um prólogo seguido de três etapas, ligando Loures a Anadia ao longo de 273,4 quilómetros.