João Almeida (Deceuninck-QuickStep) cedeu a liderança do Giro d’Italia, numa 18.ª etapa que a Sunweb venceu com o australiano Jai Hindley e em que vestiu a rosa com o holandês Wilco Kelderman, ‘abandonado’ na subida.
O australiano Jai Hindley (Sunweb), que assumiu a liderança da classificação da juventude que também era do português, venceu a etapa, ao cabo de 6:03.03 horas, necessárias para percorrer os 207 quilómetros entre Pinzolo e Laghi di Cancano, à frente do britânico Tao Geoghegan Hart (INEOS), segundo.
O espanhol Pello Bilbao (Bahrain-McLaren) foi terceiro e sobe a quarto na geral, que agora é liderada por Kelderman, quinto na etapa, com 12 segundos de vantagem para Hindley e 15 para Hart, terceiro.
João Almeida, por seu lado, é agora quinto a 2.16 de Kelderman, após cortar a meta no sétimo posto, a 4.51 minutos do vencedor, num dia que incluiu a ‘Cima Coppi’, ponto mais alto do Giro, no caso o Stelvio.
Na etapa ‘rainha’, ficam como principais imagens a estratégia difusa da Sunweb, que apesar de ter conseguido os dois primeiros postos na geral tem Hart ‘à perna’ a três dias do fim, ainda com a montanha de sábado pela frente, e a ‘luta’ de João Almeida.
Apesar de ter ficado para trás cedo na subida ao Stelvio, o ‘monstro’ de 2.758 metros de altitude, num momento em que Ruben Guerreiro (Education First) estava a ser apanhado depois da fuga e ainda o ajudou, o português cerrou os dentes e impôs o seu próprio ritmo à montanha italiana.
Ficou para trás e passou muitas horas a correr ‘sozinho’, com o colega de equipa italiano Fausto Masnada, que, num primeiro momento não descaiu para auxiliar o seu líder, a ser incapaz de lhe oferecer grande ajuda, e outros candidatos, como o polaco Rafal Majka (Bora-hansgrohe) e, posteriormente, o italiano Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo), na roda, sem nunca desistir.
No final, cortou a meta no sétimo lugar, conseguindo mais um ‘top 10′ em etapas, e caiu para o quinto posto, com um posto nos 10 primeiros na geral final praticamente assegurado e o ‘top 5′ bem à mercê, naquela que é, ainda, a sua estreia em grandes Voltas, no primeiro ano de WorldTour.
O dia encerrou uma jornada de 15 dias seguidos a vestir a camisola de líder da ‘corsa rosa’, mas Portugal pôde festejar, uma vez que Ruben Guerreiro, que hoje subiu a 37.º na geral, assegurou matematicamente a vitória na classificação da montanha.
É um feito inédito em qualquer classificação de grandes Voltas para um ciclista português, que o corredor de Pegões, concelho do Montijo, tem de confirmar ao terminar a prova no domingo, em Milão, após hoje somar 36 pontos e manter o belga Thomas de Gendt (Lotto Soudal) a uma distância já inatingível, beneficiando ainda do abandono do italiano Giovanni Visconti (Vini Zabù-KTM).
Também sozinho, mas depois de João Almeida, ficou Wilco Kelderman, que apesar de chegar à liderança não escondeu a desilusão com a estratégia da equipa, que ‘soltou’ Hindley na frente, com Hart, e deixou o novo ‘maglia rosa’ desamparado.
Na frente, e já depois de o australiano Rohan Dennis (INEOS) ter sucumbido ao grande trabalho que impôs Stelvio acima, a luta pela vitória na etapa ‘rainha’ da ‘corsa rosa’, já na última subida a caminho da meta, resumia-se a seis letras: de um lado Jai e do outro Tao, num duelo entre dois jovens, o primeiro à procura da estreia em grandes Voltas e o segundo já ‘coroado’ na 15.ª etapa.
“Estou muito feliz por conseguir ganhar. Sabia que o Tao ia comigo até à meta para tentar ganhar o máximo de tempo possível, disseram-me para seguir na roda dele e não trabalhar, e foi o que fiz, porque sabia que o Wilco tinha como muito provável a rosa. Vi uma oportunidade para ganhar a etapa e consegui”, revelou o australiano.
Questionado pelos jornalistas, o novo camisola rosa respondeu um seco “não sei” sobre a estratégia da equipa em lançar Hindley, e o novo líder da classificação da juventude explicou que seguir a solo “não era a tática”, mas que se limitou a “seguir o plano”.
Mais tarde, foi Kelderman a explicar que ter conseguido “deixar Almeida para trás muito cedo” lançou a corrida com a INEOS, elogiando a força de Rohan Dennis e Hart.
“Não consegui seguir com eles. Tornou-se uma corrida para mim atrás deles. Estou feliz hoje, agora é recuperar e fazer planos para as últimas etapas”, atirou o novo ‘maglia rosa’, à beira da maior vitória da carreira, após um dia em que passou mais de uma hora a correr sozinho.
Até final, sobram três etapas, uma dedicada a ‘sprinters’, na sexta-feira, um novo dia de montanha no sábado, refeito após as restrições da pandemia de covid-19, incluindo uma subida tripla a Sestriere, e o contrarrelógio individual de domingo, em Milão, que consagrará o vencedor da 103.ª edição.
Na sexta-feira, a 19.ª de 21 etapas liga Morbegno a Asti em 258 quilómetros de perfil plano.