O ‘anónimo’ Colin Stüssi foi hoje ‘promovido’ ao estatuto de campeão, confirmando um potencial demonstrado nos primeiros anos no pelotão, em que rivalizou com ciclistas agora de renome, e ‘desaparecido’ nas últimas épocas.
Uma rápida pesquisa na Internet não lhe permitirá saber absolutamente nada sobre a história do vencedor da 84.ª Volta a Portugal, um perfeito desconhecido no ciclismo mundial, tanto que no Instagram tem meros 600 seguidores, um número irrisório na era das redes sociais, principal veículo de comunicação do pelotão.
As poucas linhas escritas na Wikipédia contam que Stüssi nasceu em 04 de junho de 1993, em Glarus, um cantão germânico da Suíça, ‘incrustado’ nos Alpes, num cenário idílico de lagos e glaciares, mas o contacto nos bastidores da prova que hoje ganhou revelam um homem tímido, mas simpático, educado e disponível e dono de um sentido de humor que foi arrancando gargalhadas aos jornalistas.
“Eu sou um tipo de números, lembro-me dos números, não dos nomes”, descreveu após a oitava etapa, depois de ter disparado os dorsais dos seus adversários como se dos números do bingo de tratasse.
Foi discreta mas consistentemente que o ciclista da Vorarlberg chegou à liderança da Volta a Portugal, à sétima etapa, com uma vitória no alto do Larouco que culminou três dias consecutivos dentro dos sete melhores das tiradas, abrilhantados ainda pelo segundo lugar na Torre, prenúncio de que a melhor versão do suíço estava de regresso.
Profissional desde 2015, foi vencendo classificações da juventude em provas por etapas em Itália – por exemplo, na Volta à Toscana de 2016, ficou à frente de nomes como Richard Carapaz ou Miguel Ángel López -, antes de estrear o palmarés na Volta a Rodes (Grécia), em 2017, um dos seus melhores anos no pelotão até agora.
Nessa época, Stüssi prometeu muito, com vários top 10 em gerais, nomeadamente um segundo lugar na Volta a Sibiu (Roménia), atrás do campeão do Tour2019, o colombiano Egan Bernal, ou um quarto posto no Tour de Almaty (Cazaquistão), ganho pelo conceituado Alexey Lutsenko.
O trajeto ascendente do suíço, que correu quase sempre a nível continental – a exceção foi 2016, quando a Roth subiu ao segundo escalão -, estagnou na temporada seguinte, quando correu com as cores da histórica Amore&Vita; ainda foi sexto na prova de fundo dos Nacionais e no Tour de Almaty, mas pouco mais.
Curiosamente, foi em 2018 que se estreou na Volta a Portugal, agora apenas uma recordação de má memória, já que caiu na etapa da Senhora da Graça, na zona das Fisgas de Ermelo, e não chegou então a conhecer a mítica subida. “Ouvi tantas coisas boas sobre ela [Senhora da Graça], sobre os espetadores, a cerveja. Foi muito bom subi-la”, revelou no sábado.
Foi na Vorarlberg que Stüssi regressou aos triunfos; a equipa austríaca apostou nele em 2019 e o agora campeão da Volta correspondeu com uma vitória no Grande Prémio com o mesmo nome e numa etapa do Tour de Savoie Mont Blanc e um quinto lugar na clássica Paris-Bourges.
As duas épocas seguintes foram bem modestas, sem resultados de destaque, num ‘declínio’ profissional travado este ano. O 12.º lugar na Volta à Eslovénia era o seu principal cartão de visita antes desta Volta – referido até por alguns diretores desportivos de equipas portuguesas, que já o tinham debaixo de olho -, à qual chegou com a ambição de um top 10 e saiu como um ciclista vencedor.