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Mathieu van der Poel tem uma nova camisola para vestir, depois de ter vencido uma das melhores provas de fundo da história dos Mundiais de ciclismo, com Wout van Aert a ser segundo e Tadej Pogacar terceiro.

Nem uma queda impediu Van der Poel de alcançar outro arco-íris
Picture by Alex Broadway/SWpix.com

Este era o pódio de sonho dos fãs da modalidade e os três não desiludiram, com o neerlandês a ser um justíssimo vencedor, depois de atacar a mais de 20 quilómetros da meta, cair e, ainda assim, ganhar tempo ao grupo de perseguidores, cortando a meta isolado, após 6:07.27 horas na estrada.

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Seis meses depois de ter sido segundo atrás do seu eterno ‘inimigo’ nos Mundiais de ciclocrosse, Wout van Aert voltou a ocupar a mesma posição, agora na estrada, gastando mais 1.37 minutos do que Van der Poel. O esloveno Tadej Pogacar, que nem tinha os Campeonatos do Mundo de Glasgow nos seus planos, foi terceiro, a 1.45.

Mathieu van der Poel caiu mas conquistou o arco-íris na prova de fundo do Campeonato do Mundo de Ciclismo
Picture by Alex Broadway/SWpix.com

“[O título mundial] Significa tudo. Era um dos grandes objetivos que ainda me faltava. Ganhar hoje é fantástico. Quase completa a minha carreira, na minha opinião. Para mim, talvez seja a [minha] maior vitória na estrada. Nem consigo imaginar como será vestir arco-íris o ano todo”, disse o talentoso neerlandês, ‘dono’ de um palmarés invejável, que inclui, entre outras, vitórias na Paris-Roubaix (2023), Milão-Sanremo (2023), Volta a Flandres (2020 e 2022), Amstel Gold Race (2019), Strade Bianche (2021) e numa etapa do Tour, com direito a amarela.

Nem uma queda impediu Van der Poel de alcançar outro arco-íris O muito criticado percurso da prova de fundo revelou-se absolutamente espetacular – e implacável, já que só 51 ciclistas chegaram ao final, entre os quais o português Nelson Oliveira – e Van der Poel pôde redimir-se do ano passado, quando foi detido na Austrália por uma altercação no hotel no dia anterior à corrida de fundo, no decurso da qual acabou por desistir. “Foi um pouco como vingança em relação ao ano passado”, declarou, emocionado, o agora vigente campeão mundial de estrada e ciclocrosse.

Ainda a partida real para os 271,1 quilómetros da prova de fundo dos Mundiais de Glasgow não tinha sido dada e já João Almeida tinha caído, numa zona de ‘pavé’ na cidade de Edimburgo, permanecendo longos quilómetros atrás do pelotão e recebendo assistência médica aos visíveis cortes no pulso esquerdo.

O líder da seleção portuguesa reentrou no grupo numa altura em que o austríaco Patrick Gamper, o irlandês Rory Townsend, o britânico Owain Doull, o australiano Matthew Dinham, o colombiano Harold Tejada, o norte-americano Kevin Vermaerke, o neozelandês Ryan Christensen, o checo Petr Kelemen e o letão Krists Neilands, um dos corredores ‘sensação’ do último Tour, andavam em fuga.

A cerca de 191 quilómetros da meta, os comissários travaram os homens da frente, que chegaram a dispor de uma vantagem de nove minutos, devido a um protesto na estrada, no qual os manifestantes se colaram à estrada com cimento.

Os grupos foram sendo sucessivamente parados e, depois de praticamente uma hora de espera, os ciclistas retomaram o caminho, com os comissários a darem ‘ordem de largada’ consoante as diferenças registadas quando a prova foi interrompida.

À entrada do muito criticado circuito urbano de Glasgow, considerado demasiado técnico e perigoso pelos ciclistas, a vantagem dos homens da frente já estava reduzida a quatro minutos e a ‘chuva’ de quedas acentuou-se.

Ainda faltavam 134 quilómetros para a meta quando Julian Alaphilippe atacou: o francês, antigo bicampeão mundial (2020 e 2021), foi a primeira das ‘estrelas’ a mexer na corrida, seguindo-se Alberto Bettiol, com o ataque do italiano a expor as debilidades do então campeão mundial em título, o belga Remco Evenepoel.

Numa verdadeira corrida de eliminação, as desistências foram-se acumulando e os ciclistas em dificuldade também, com a Dinamarca a acelerar o ritmo impiedosamente, numa altura em que o teórico líder da França, Christophe Laporte, furou e perdeu as esperanças de ser campeão do mundo, acabando por desistir, tal como Alaphilippe.

Evenepoel esteve no ‘elástico’ durante muito tempo – não estava na frente quando Kevin Vermaerke, o último dos resistentes da fuga, foi apanhado já dentro dos derradeiros 73 quilómetros -, mas foi-se mantendo entre os corredores que iriam discutir as medalhas, num grupo em que Bettiol foi um dos mais ativos, atacando a 50 quilómetros da meta.

O jovem belga, o grande derrotado do dia, pagou cara a sua arrogância – continua a dar mostras de imaturidade e de soberba, ao atacar tantas vezes depois de passar dificuldades – e ficou definitivamente afastado da revalidação do título quando não conseguiu seguir o compatriota, mas adversário, Van Aert, ‘MVDP’, Pogacar e Mads Pedersen, o quarteto que perseguia o italiano.

A ‘aventura’ de Bettiol acabou assim que Van der Poel atacou, relegando os outros três ‘grandes’ ao estatuto de perseguidores. Quando parecia lançado para o triunfo, o neerlandês caiu, a pouco mais de 16 quilómetros da meta, mas nem assim perdeu ‘embalo’, chegando até a ganhar tempo ao ‘trio’.

Com o equipamento rasgado e com sangue e um dos sapatos desapertados, o neerlandês de 28 anos pedalou para o há muito desejado arco-íris, enquanto Van Aert atacava no grupo perseguidor e se isolava rumo à prata. Pogacar e Pedersen chegaram à meta juntos e o esloveno, recém-sagrado ‘vice’ do Tour (pelo segundo ano consecutivo), surpreendeu ao bater ao sprint o mais rápido dinamarquês.

Nelson Oliveira honrou novamente a seleção nacional, sendo 46.º classificado, a 14.13 minutos do vencedor. Foi o único dos portugueses a concluir a prova, já que Almeida, Ruben Guerreiro e André Carvalho desistiram.

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