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Há ano e meio atrás neste momento era um homem feliz, depois de muito ter sido empurrado pelos amigos e de muito ponderar, era o fantástico dono de uma bicicleta Rockrider 8.0 branca e verde experimentada na loja em quinze minutos, um par de calções, de licra, com almofada, baratinhos e uma mochila com saco de água que estava em promoção. A brincadeira ficou por 475€, aproveitando 20% de desconto em material na compra da bicicleta nova.

Os dias eram curtos para tanta vontade de andar, ou as pernas é que eram fracas… não sei bem… Seja como for, a primeira volta com o pessoal, doze quilómetros em alcatrão com passagem pela mata nacional do Choupal praticamente em plano, considerada na altura dificuldade alta. Foi evidente no fim da volta e nos cinco dias seguintes que o banco de origem não era para mim, agarrei-me à internet e pesquisei bancos, das mais variadas formas e tamanhos, com molas sem molas, estreitos, largos, com sulco prostático, de estrada, de montanha… enfim pesquisem um bocadinho e vão ver a quantidade de bancos e preços que para ai há. Lá resolvi mandar vir um banco novo, branco “almofadado” (entre aspas porque era muito melhor do que o de origem mas não era propriamente um sofá), ficou com bom aspecto montado na bicicleta.

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Nos meses seguintes multiplicaram-se os quilómetros, e as distâncias percorridas aumentaram. As primeiras voltas de doze quilómetros eram agora orgulhosamente chamadas de “Volta da Treta”.

Os caminhos alongaram-se e tornaram-se mais irregulares e a suspensão de origem de 100mm, agora com seis meses, deu lugar a uma com mola de ar/óleo de 120mm. Agora á posteriori posso-vos dizer que foi uma ótima compra pela relação qualidade preço.

Suspensão nova pedia trilhos novos mais acidentados, mais inclinados e mais rápidos, não sou propriamente pequeno nem leve e os travões de disco de origem de 160mm começaram a dar de si, procurei na internet uma boa opção de troca de discos por uns de 180mm, o dinheiro é pouco e os discos são caros, desta vez mandei vir só um, montei atrás que eu não gosto dessas coisas de travar muito com o da frente a descer.

Agora sim vamos descer monte a baixo, nas semanas seguintes os meus travões levaram os maiores aquecimentos da vida deles e levaram o primeiro jogo de pastilhas, o segundo disco de 160mm para a frente chegou entretanto.

Agora estava pronto para os single tracks na Serra da Boa Viagem, juntámos um grupo de amigos e lá vamos nós na penosa tarefa de subir a serra vindos da Figueira da Foz, chegados ao cimo percorremos os 3 miradouros e descemos para a Murtinheira, quando cheguei lá a baixo num dos single tracks mais radicais que eu tinha percorrido até á data a roda da frente parecia um oito, no dia seguinte percorri as casas de material para saber onde conseguia arranjar um aro novo e resistente, depois de substituído o aro da frente não demorou muito a ter de trocar também o de trás.

Deixem-me contar-vos porque precisei de trocar o aro de trás… Uma tarde numa voltinha de fim de dia, sozinho e sem distrações, a circular num passeio com quatro a cinco metros de largura consegui acertar, sem travar, num poste de um sinal de trânsito, bati e voei agarrado a bicicleta para a faixa de rodagem e a roda de trás aparou-me a queda, no mínimo caricato.

A bicicleta estava agora com 2 aros de DH para aguentar o meu peso, uma suspensão de ar, 2 discos de travão, um jogo de pastilhas e um banco novo, ou seja mais 270€ em peças novas.

A segunda etapa na vida do ciclista é quando decide usar pedais de encaixe, para mim foi quando um amigo me emprestou uns pedais spd, comprei uns sapatos, arranjei uns clips e vamos lá andar de bicicleta, encontramos-nos na véspera de Natal para fazer parte do trilho dos Sarilhos em Cantanhede e a bicicleta ganhou uma vida nova com os pedais de encaixe. Nos meses seguintes contaram-se uma boa meia dúzia de quedas porque os pedais ganham vida própria e não querem largar os pés. Cair pro lado no semáforo ou no fim do trilho é normal, os amigos gozarem contigo também é, levanta-te e segue o trilho… Hoje já não me revejo numa bicicleta sem pedais de encaixe.

Um ano e meio passados, mais ou menos dois mil quilómetros, voltas regulares com quilómetros nas várias dezenas e uma bicicleta hardtaile começa a deixar mossa, pelo menos para mim que não sou purista do XC e gosto de ter algum conforto para andar de bicicleta. Instalou-se a ideia de um quadro com suspensão total para substituir a atual RR8.0.

Começou a busca por um quadro ou uma bicicleta, e como sou um pouco avesso a comprar material em segunda mão a coisa prolongou-se por uns meses, os quadros são quase ao preço de uma bicicleta nova e as bicicletas mais baratas não têm material em condições, depois da experiência da RR8.0 não ia voltar a comprar barato e gastar em material de substituição.

A opção foi trocar de quadro passar o mais possível de material da RR8.0 para o quadro novo, e atualizar quando pudesse, comprei um quadro de marca online a uma loja austríaca mais barato que nas lojas em Portugal e já trazia amortecedor central, comprei também o restante material que precisei, já que ia trocar podia melhorar algum material, migrei o restante da RR8.0 e fiquei com uma bicicleta razoável ao estilo frankenstein.

Foram 18 meses fantásticos com a RR8.0 mas era inevitável evoluir para algo melhor, o conselho que vos dou é gastem um pouco mais na primeira bicicleta e comprem material melhor, gastam menos do que se tiverem de trocar à posteriori, se gostam de ter algum conforto ponderem a possibilidade de uma bicicleta de suspensão total, vejam os tamanhos dos quadros, as bicicletas não são todas iguais. Resumindo pesquisem e informem-se bem antes de comprar barato para não sair caro.


Artigo de opinião de um amigo do BTT Lobo, P. Carvalho.

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