O Cape Epic é aquela corrida em que todos os atletas do BTT sonham um dia participar, na edição de este ano vamos contar com a presença de Rui Porto Nunes e André Filipe.
De onde surgiu a ideia/hipótese de participarem no Cape Epic?
André Filipe – O Rui Porto Nunes conseguiu um slot para inscrição e meteu uma story. Quase que por brincadeira disse-lhe que ia com ele. Como ele não tinha parceiro, numa prova da taça de Portugal falámos sobre isso e decidimos aproveitar a oportunidade (isto em Agosto).
Então esperei que a prova terminasse e enviei um mail à organização. Apresentei-me, enviei os dados das minhas redes sociais, e depois de analisarem, enviaram-me o acesso ao slot de inscrição. Lembro-me de ler vezes sem conta o mail. Não estava a acreditar que me tinham dado acesso ao slot de inscrição.
Como sabem a inscrição para o Cape Epic só é possível através da habitual lotaria ou de um convite, embora que esse convite tenha um custo de quase 6 mil euros. De tão contente que estava publiquei parte do mail nas instastories, e o André Filipe respondeu ao story perguntando: “já tens parceiro? Se não tens, eu vou contigo”.”
Conhecer bem o parceiro, muitas vezes pode fazer a diferença num evento destes. Já tinham pedalado juntos antes? Ou vai ser uma novidade para ambos?
André – Vai ser novidade para ambos. Eu já fiz provas em duplas sem ter pedalado antes com o parceiro e correram bem, espero o mesmo desta aventura.
Rui – Eu e o André somos adversários na Taça de Portugal e no Campeonato Nacional de XCO. O máximo que pedalei ao lado dele foi em algumas, mas poucas, partidas das provas. Ele é demasiado forte e vai logo para a frente da corrida, e eu nunca mais o vejo. Portanto, sim. Vai ser uma novidade para ambos.
Sendo esta conhecida, como A-Corrida-Que-Mede-Tudo, existe algum receio maior da vossa parte, para esta que é considerada a prova rainha do BTT?
André – Receio da prova em si não tenho, hoje em dia há muita informação e de fácil acesso. Os percursos já foram apresentados, o numero de abastecimentos, as zonas mais perigosas das etapas, é necessário ter atenção e analisar as etapas na véspera.
Rui – Confesso que neste momento sinto-me bastante pequenino perante a dimensão da prova em que vou participar. Vai ser tudo muito intenso. Isto é o sonho de uma vida, pelo menos para mim.
No Cape Epic, com 647 km e 15550 metros de subida acumulada no final de 8 etapas diárias, existe a preocupação de chegar ao final, fazer o balanço do dia, recuperar física e psicologicamente e preparar tudo para o dia seguinte. Vão poder contar com algum apoio nesta área, ou serão vocês a tratar de tudo?
André – Sim, felizmente vamos contar com o staff da MasQueBici na parte mecânica e na parte da massagem, o que é uma ajuda super importante para recuperarmos e para termos mais tempo para organizar o dia-a-dia.
Rui – Felizmente conseguimos o apoio da MasQueBici. Uma empresa espanhola, bastante conceituada no mundo do mountain bike, que cuidará da mecânica das nossas bicicletas, e das massagens ao nosso corpo.
Rui, vieste recentemente do Brasil Ride, uma prova também ela por etapas, com 7 dias de duração. Trazes de lá alguma bagagem de conhecimento ou preparação que achas que te vai ser útil para o Cape Epic?
No final da prova, esse ganho marginal, fará diferença. A nível de abastecimentos, percebi a meio da prova, que perdia muito tempo a reabastecer, então no Cape Epic terei de ter outra táctica. E isso passou por comprar o pack nutrição. É chegar ao abastecimento e trocar as nossas garrafas de água pelas que deixamos preparadas na noite anterior junto da organização.
Outro aspecto importante, a comida. Massa, arroz e muita carne é o que vamos comer durante os 8 dias. Nada de inventar a nível da alimentação. Estamos num país diferente, e com as defesas mais em baixo devido ao cansaço, facilmente o nosso corpo rejeita algum tipo de alimento. E água, só engarrafada. É preciso proteger muito bem o estômago e os intestinos.
André, com títulos como Tetracampeão Nacional de CRI M30, – Vice-Campeão Nacional de Fundo M30, Bicampeão Nacional M30 de XCO, vais participar numa prova ligeiramente diferente. Achas que ainda assim estarás na tua zona de conforto, ou fizeste alterações ao teu treino por forma a te preparares melhor?
Partem para África do Sul, onde vão pedalar lado a lado com alguns dos maiores nomes do BTT mundial. Seguem já com aspirações a alguma posição na tabela classificativa ou, sendo a vossa estreia neste evento com tantos bons ciclistas, vão optar por chegar primeiramente ao fim, onde nem todos chegam e, gerir dia-a-dia e ver no que dá?
André – Pessoalmente o meu grande objetivo é ser finisher, temos de ser realistas e ter os pés no chão. Vamos ombrear com alguns dos melhores do mundo, e só o facto de sermos finishers está pendente de várias condicionantes como avarias, quedas e estado físico, é necessário fazer uma gestão cuidada dia a dia.
Um evento destes, acarreta uma logística muito grande e consequentes custos, como inscrição, viagens, suplementação e componentes para as bicicletas, entre outros. Quais foram as maiores dificuldades com que se depararam?
André – As maiores dificuldades foi os custos da inscrição, viagens e os extras necessários, o que é material, é mais fácil conseguir algumas parcerias e nomeadamente na suplementação e bicicletas, gostaria de agradecer à Nutrimania.pt, à Bikezone de Leiria e à Prototype.
Rui – Quando falamos do Cape Epic, falamos num orçamento que ronda os 15 mil euros por equipa. E este valor é apenas com o básico dos básicos. As dificuldades passaram por arranjar patrocinadores em tempo record. A inscrição tinha de ser paga até 31 de Setembro. E em agosto eu não tinha nada. Foi ligar, enviar mails e insistir até conseguir os tão desejados SIM.
Como é óbvio, nada disto é possível sem apoios/patrocínios. Têm tido sucesso em obter ajudas nesta área? Querem destacar alguém?
Rui – Monetariamente consegui o apoio da Betclic, Delta Cafés e Município de Arronches. Como embaixador Specialized irei de bicicleta S-Works, pneus, capacete e sapatos Specialized. Os equipamentos serão La Maglia, uma empresa brasileira que conheci no Brasil Ride e ficámos bastante amigos. É com eles que irei voltar ao Brasil Ride em 2020. A Kombina oferece-me toda a manutenção à bicicleta durante o ano, e para o Cape Epic irá dar-me material extra caso seja preciso usar durante a prova, enquanto que a MasQueBici estará encarregue da manutenção das bicicletas e das nossas massagens.
Havendo depois do Cape Epic todo um ano de competição pela frente, como foi incluir esta prova e a sua preparação no calendário? Existe o receio de que possa interferir com a restante época?
André – Incluir no calendário foi fácil, pois não coincidia com nenhuma outra prova, as provas da taça de Portugal de xco começam no fim de semana antes, e continuam no fim de semana seguinte. Em relação à restante época, tenho algum receio da fadiga que as viagens e os 8 dias de prova possam causar, mas é o realizar de um sonho e temos de correr esse risco.
Rui – Neste momento estou apenas focado no Cape Epic. Quando voltar para Portugal a minha prioridade será o trabalho.