Com João Almeida (Deceuninck-QuickStep) 15 dias na frente da geral e Ruben Guerreiro (Education First) no pódio como ‘rei’ da montanha, a dupla portuguesa pintou de rosa e azul a 103.ª edição do Giro d’Italia.
Ao longo de 21 etapas, sobretudo marcadas pela prestação do estreante João Almeida, de rosa (camisola de líder da geral) da terceira à 17.ª tirada, mas também de Ruben Guerreiro, que venceu a nona etapa num dos dias em que o compatriota perdeu tempo, além de arrebatar a ‘maglia azzurra’ na segunda metade da prova, Portugal teve quase sempre motivos para festejar.
Ao todo, 16 países tiveram mais ciclistas do que Portugal, que ainda assim se ‘apaixonou’ pela ‘corsa rosa’ graças aos feitos de um duo que agitou uma prova que, em determinado momento, tinha em João o líder da geral e da juventude e em Ruben a montanha, faltando ‘apenas’ a ‘maglia ciclamino’, destinada à classificação por pontos.
03 de outubro: Um contrarrelógio individual abre a 103.ª edição do Giro, com o campeão do mundo da especialidade, o italiano Filippo Ganna (INEOS), a vencer uma etapa na qual João Almeida mostra ‘ao que vem’: é segundo e ganha tempo a todos os adversários.
04 de outubro: Em Agrigento, uma pequena subida até à meta afasta a maior parte dos velocistas da discussão da etapa, com João Almeida a fazer novo ‘top 10’, no sexto lugar.
05 de outubro: Na ‘escalada’ do Etna, onde em 1989 Acácio da Silva tinha conquistado a ‘maglia rosa’, João Almeida emula esse feito com um 11.º lugar na etapa, embora tenha perdido tempo para alguns dos que viriam a ser seus adversários na luta pela geral, e fique empatado em tempo com o vencedor da etapa, o equatoriano Jonathan Caicedo (Education First).
07 de outubro: Em novo dia na montanha, João Almeida é terceiro e bonifica, conseguindo novo pódio em etapa.
GLÓRIA EM ROCCARASO E UMA LIDERANÇA CIMENTADA
11 de outubro: A ligação de San Salvo a Roccaraso, de 208 quilómetros, fica marcada na história do ciclismo português, que voltou a ter um vencedor de etapa no Giro 31 anos depois, num dia de montanha em que Ruben Guerreiro andou escapado, na fuga do dia, e acabou por bater o espanhol Jonathan Castroviejo (INEOS) na ponta final, conseguindo a maior vitória da carreira.
O resultado na nona etapa também lhe permite assumir a liderança da classificação da montanha, vestindo a ‘maglia azzurra’, com 84 pontos contra 76 de Giovanni Visconti (Vini Zabù-KTM).
No sentido inverso, João Almeida tem o primeiro dia mau e perde tempo para os rivais, o holandês Wilco Kelderman (Sunweb) e o espanhol Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), respetivamente segundo e terceiro na geral, mas continua no primeiro posto.
13 de outubro: Depois do dia de descanso, o eslovaco Peter Sagan (Bora-hansgrohe) isola-se e vence a 10.ª etapa, na qual João Almeida faz novo pódio, terceiro, e bonifica, respondendo aos rivais após perder tempo.
15 de outubro: Em Cesenatico, Ruben Guerreiro (oitavo) e João Almeida (nono) rolam com os melhores, mantendo-se as distâncias para os principais rivais, e Portugal segue a liderar três das quatro principais classificações individuais: geral e juventude (Almeida) e montanha (Guerreiro).
16 de outubro: Novo ‘quase’ para João Almeida em Monselice, com o italiano Diego Ulissi (UAE Emirates) a vencer a sua segunda etapa num ‘sprint’ reduzido, à frente do português, que ainda assim volta a bonificar e ganhar tempo precioso na ‘batalha’ pela geral.
Ruben Guerreiro corta a meta em 14.º, sobe a 26.º da geral e soma mais três pontos na montanha e aumenta a liderança nesta classificação.
17 de outubro: Novo ‘crono’, desta feita em Valdobbiadene, nova vitória de Filippo Ganna, então a confirmar um ‘hat trick’, e novo ‘brilharete’ de João Almeida.
O português é sexto na etapa e ganha tempo a todos os rivais, saindo do segundo de três contrarrelógios com 56 segundos de vantagem para Kelderman e 2.11 para Bilbao, com o britânico Tao Geoghegan Hart (INEOS) e o australiano Jai Hindley (Sunweb), que acabaram a disputar a vitória final, a mais de 3.30 minutos.
18 de outubro: O pelotão sai da base aérea de Rivolto a caminho de Piancavallo, onde Hart vence no alto e a dupla Kelderman-Hindley toma tempo a João Almeida, que é quarto e fica com o holandês ‘à perna’, a 15 segundos da camisola rosa.
No pior dia para a dupla portuguesa, Ruben Guerreiro falha a fuga e é ultrapassado por Visconti, que soma agora 118 pontos contra 87 do português.
20 de outubro: Depois do segundo dia de descanso, João Almeida entra na terceira semana de rosa e ‘arranca’ dois segundos a Kelderman e aos outros rivais, que seguem a perto de três minutos de distância.
Pela montanha, Visconti e Guerreiro ‘batalham’ na fuga. O italiano ainda vai na frente, com 148 pontos, contra 118 do português.
21 de outubro: Em Madonna di Campiglio, Ruben Guerreiro chega aos 198 pontos, Visconti não pontua, e volta a vestir a ‘maglia azzurra’.
A fuga leva a etapa com Almeida a cortar a meta com o mesmo tempo dos rivais antes do ‘temido’ Stelvio.
STELVIO AGRIDOCE E DEMONSTRAÇÃO DE ALMA
22 de outubro: O dia começa bem para o ‘rei’ da montanha, com o abandono de Visconti. Na fuga, o belga Thomas de Gendt (Lotto Soudal) deu-lhe luta, mas o português acabou por pontuar o suficiente para garantir matematicamente a conquista.
Na batalha pela ‘maglia rosa’, João Almeida cede após um ataque de Hart e Hindley, que deixam Kelderman, novo líder, para trás, enquanto o português é sétimo em Laghi di Cancano, caindo para o quinto posto e saindo da liderança após 15 dias, ficando agora a 2.16 minutos do holandês.
24 de outubro: Na subida tripla a Sestriere, incluída após caírem os planos de subir o Izoard e o Agnelo, Tao Geoghegan Hart vence, Hindley é segundo e sobe à liderança, ambos separados por menos de um segundo.
João Almeida mostra alma e garra com um ataque que o leva ao quarto lugar da etapa, ganhando tempo a Kelderman, agora terceiro, e a Pello Bilbao, que tem o quarto lugar na geral ‘ameaçado’ pelo português, a 23 segundos.
25 out: O contrarrelógio da 21.ª e última etapa consagra oficialmente João Almeida como melhor português de sempre na ‘corsa rosa’, no quarto lugar, e Ruben Guerreiro como ‘rei’ da montanha, um feito inédito para o ciclismo português em grandes Voltas.