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“What’s the weather like?” frase dos manuais de inglês do primeiro ano, das que fui ouvindo lá por casa, em vésperas de teste. “The weather is sunny!” Excelente currículo escolar, pois servindo a língua para comunicar, quem nunca falou do tempo?

O estado do tempo é tema universal. De “desbloqueador de conversa” em qualquer sala de espera, a catalisador de reflexões ontológicas, o tempo condiciona e determina, aborrece e perturba, surpreende e arrasa. Permanecemos sem possibilidade de controlo, aqui, em Svalbard ou em Danakil, mas ainda empenhados na futurologia, já sem danças da chuva, fé centrada nas apps.

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Sucede, porém, que é sempre mais-coisa-menos-coisa, porque vai que chove e afinal não, está solarengo ou um pouco nublado, sopra uma brisa ou fica fresquinho, ou ainda, como me ocorre frequentemente, “chegou o calor, começa o frio”. Nada pode já recuperar a inocência perdida, do tempo de Anthímio de Azevedo, vareta no mapa, explicando as altas e as baixas pressões, ao fim do dia, nos idos anos 70, da TV a preto e branco. Ou então, um por-do-sol, beleza fugidia à hora dos mágicos cansaços, resgatando a esperança. Em vão. Contra o tempo é contratempo.

De maneira que hoje, o estado do tempo foi tema central de conversas, nos mais variados linguajares e prenúncios de expetativas. Temos a convicção de que nos aguardam oito belíssimos dias de sol, temperaturas amenas, alguns aguaceiros. Mas quem recorda não promete e o saber é de experiência feito.

O nosso dia começou pelas 7h, com um embarque desgrenhado. Uma vez mais, um encontro de amigos.

Grant Harrison (NZ)-670, mais conhecido como o homem-melancia, é um otimista. Apresentou se em adiantamento de temperatura: t-shirt e havaianas. Mário Pedro Soares (PT)-26 fez a sua promessa anual de que, este ano, seria a última vez, Christopher Hewings (UK)-504 foi dizendo os disparates do costume, em provocação a Jonathan Chester, à distância. Uma longa viagem até Chaves pejada de animação.

Temos, novamente, Verzella Raffaele (IT)-379, Peter Verkest (BE)-244, Robin Willard (CA)-322, Rodrigo da Cunha (PT)-353, Neil Evans (UK)-411, Tony Filipe (PT)-505, Ulf Christophersen (DE)- 611, Jonas Sund (SE)-649, Johan Liljefors (SE)-659 de entre um total de 27 atletas repetentes. Um deles é o inefável Toru Watanabe (JP)-153 que, para aquecer, fez em bicicleta o trajeto Lisboa-Porto (!): um menino.

Como sempre, a equipa EUROPCAR marca presença, desta vez acompanhada por Pedro Simas (PT)-296 que vem também divulgar o FUNDO IMM -LAÇO A CAMINHO DA CURA, uma admirável união entre a Laço e o Instituto de Medicina Molecular.

À chegada não houve tempo a perder: almoço, montagem de bicicletas e o já habitual briefing de prova, seguido de briefing de GPS, jantar e, finalmente, briefing de primeira etapa. Chamemos-lhes aulas seminários. Todos em sentido, comportamento exemplar.

A TRANSPORTUGAL EUROPCAR RACE 2018 conta com um total de 88 atletas, oriundos de 18 países, com um forte contingente sul-africano (16 atletas), quase a atingir o português (18 atletas). A Bélgica, a Suíça, o Reino Unido (incluindo um artista do País de Gales de que todos já ouvimos falar) e os EUA estão representados por 6 atletas cada, seguidos depois por grupos menores vindos do Brasil, dos Países Baixos ou da Suécia, entre outros. As mulheres em competição são apenas 7 e a média geral de idades é francamente elevada, porquanto apenas 12 atletas têm menos de 40 anos e apenas 30 têm menos de 45. Robin Willard (CA)-322 é o mais sénior em prova, com 71 anos.

As dúvidas e os receios são enormes, de maneira que Reto Denzler (CH)-731 e Sterf Markus (CH)-732 decidiram afoga-los no bar. O pessoal mais ansioso foi abrilhantar as Águas Flávias e quiçá assustar Tito, com tanta cor Lycra.

A primeira etapa parte de Chaves, com breve passagem pelo centro e rápida entrada em trilhos tranquilos e verdejantes. É difícil selecionar de entre tanta beleza: a passagem por Vidago, que me lembra Thomas Mann e a sua Montanha Mágica (mesmo não tendo nada a ver), a ecovia da Oura com os seus despojos e Pedras Salgadas. Seguem-se algumas subidas desafiantes (Praina de Molhadinhos e depois, de Gralheira para o Castelo), para finalizar em brasa, na ecovia até Peso da Régua. Serão 110km com 1732m de subidas.

Texto: Florbela Pires
Fotos: Pedro Cardoso

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