Com a constante sede de inovação e vanguardismo, as marcas de ciclismo têm tendido a reinventarem-se e tentar lançar algo novo, que as diferencie das restantes. Por vezes com sucesso, outras nem tanto.
Dentro da Scott Spark, temos duas escolhas: a Scott Spark, direcionada para downcountry/trail e a Scott Spark RC, direcionada para crosscountry, onde, sem alongar muito o assunto, a principal diferença é o curso da suspensão que é de 130mm na primeira e 120mm na segunda.
O BTT Lobo teve a hipótese de testar a Scott Spark 910, no tamanho L, que com pneus Maxxis REKON EXO TR 2.4, grade de bidão com conjunto de ferramentas e sem pedais, acusou 13kg na balança, o que com os 130mm de curso, espigão telescópico e pneus desta dimensão, não nos parece fora da escala.
Passando a falar das tecnologias a que temos acesso com esta bicicleta, é obvio que temos que começar pelo sistema de suspensão integrado. Neste sistema, o amortecedor encontra-se alojado dentro do quadro, junto à caixa do movimento pedaleiro, uma zona por si só já bastante reforçada, o que fez com que não houvesse a necessidade de reforçar outras zonas do quadro e permitindo inclusive retirar algum peso na zona superior do mesmo.
Com isto, o centro de gravidade da bicicleta fica mais baixo, tornando-a mais ágil e fazendo com que se agarre melhor ao piso. Assim, a Scott garante também que a transferência de potência é o mais direta possível, evitando movimentos laterais à medida que o amortecedor comprime.
Outro dos benefícios desta colocação “resguardada” do amortecedor, é este ficar protegido de eventuais acidentes e de poeiras ou lamas, aumentando o seu tempo útil de vida.
Contudo, e apesar do amortecedor estar literalmente dentro do quadro, o seu acesso e manuseio não é nenhuma dor de cabeça e temos ao nosso dispor três soluções para nos ajudarem nisso. A primeira e mais importante, é uma porta por baixo da zona do movimento pedaleiro que nos dá acesso direto ao amortecedor para efeitos de manutenção e que nos permite com facilidade regular a pressão e o rebound, bem como facilidade para eventualmente substituir o cabo do Sistema de Suspensão TwinLoc.
Na lateral esquerda do tubo vertical, junto do pivot superior do triangulo traseiro, dispomos de uma pequena tampa em borracha maleável, que nos permite ver o curso efetuado durante a utilização e por ultimo, mas não menos importante, temos uma escala de SAG nesse mesmo pivot superior, para uma maior comodidade quando ao regular a pressão.
Com o Sistema de Suspensão TwinLoc, proprietário da Scott, que referimos anteriormente, podemos colocar a suspensão da bicicleta num de 3 modos: Bloqueada/Controlo de tração/Descida. Com isto, o ciclista tem a hipótese de alterar o comportamento de bicicleta em movimento. Se os modos Bloqueada e Descida são autoexplicativos (no primeiro a suspensão está completamente trancada, no segundo está completamente aberta e a utilizar todo o seu curso), já o modo de Controlo de tração, muda um pouco o jogo.
O Twinloc ajuda a ajustar o SAG em diversos sentidos, permitindo não só mudar o amortecimento na compressão, mas também a curva da mola, alterando por isso a geometria da bicicleta. No modo Controlo de tração, o amortecedor fica mais firme, mas também usa dinamicamente menos curso. O bloco pedaleiro fica mais elevado, otimizando o ângulo da bicicleta em subida, tornando a bicicleta mais ágil. Este modo é ideal para rolar em terrenos mais acidentados, com pedra, raízes ou socalcos e para subidas onde precisamos de mais alguma tração.
No modo Descida, a utilizar todo o curso da bicicleta, sentimos uma enorme confiança e conseguimos passar pela maioria dos obstáculos sem dificuldade, permitindo até alguns saltos mais arrojados. Isto, combinado com os pneus 2.4 montados nuns aros de 30mm da largura, oferece uma tração e segurança fenomenais tanto a descer como a curvar.
Toda esta questão de modos de suspensão e utilização do espigão telescópico ficam literalmente à distância de esticar o polegar esquerdo, indo de encontro ao manipulo de controlo com três alavancas, onde o mais frontal se ocupa de destravar a suspensão, o intermédio de bloquear (ambos permitindo aceder aos 3 modos de suspensão) e por fim, o mais chegado ao ciclista, que controla o espigão telescópico. Todo isto primeiro estranha-se, mas depois entranha-se e acaba por ocorrer de forma natural.
Uma outra novidade no novo quadro Spark, é a possibilidade de podermos ajustar o ângulo da testa em + ou – 0,6 graus. Isto pode ser feito sem termos que cortar cabos ou sangrar travões. Basta desmontar o avanço, girar os copos da caixa de direção em 180 graus e voltar a montar o avanço. Isto permite à Scott utilizar precisamente o mesmo quadro tanto na configuração Spark como na Spark RC.
Mantendo a sua solução de ter a chave do eixo da roda traseira como ferramenta para utilizar na bicicleta, esta característica foi melhorada, sendo agora uma chave T25, T30 e Allen 6 numa só ferramenta. Com essas três opções, podemos ajustar todo o hardware da zona do pivô bem como quase tudo o que há para ajustar na bicicleta.
No que toca à restante configuração, a Scott Spark 910 conta com uma suspensão FOX 34 Float P. Elite com 130mm e um amortecedor FOX Nude 5T EVOL, TwinLoc, de 120mm de curso. A transmissão e travagem ficam a cargo do sobejamente conhecido e fiável grupo Shimano XT dispondo de 12v com um prato de 32T e cassete 10/51.
Como não poderia deixar de ser, numa bicicleta deste calibre, ainda mais pretendendo-se que seja uma bicicleta de downcountry/trail (embora no site da marca, esta conste como condição de utilização 3 – Cross country e maratona), contamos com um espigão telescópico FOX Transfer Performance Elite.
Os restantes periféricos e as rodas são da submarca Syncros e são em alumínio, o que embora penalize um pouco o peso, dá-nos mais confiança quando temos que saltar algum drop ou descer uma zona de pedras mais agreste, tornando a Scott Spark 910 uma bicicleta muito robusta.
Em relação à integração, a Scott Spark 910 conta como já começa a ser usual, com roteamento interno de cabos, sendo que no cockpit, estes entram diretos na caixa de direção, acabando por ficar um pouco mais fora da vista do utilizador.
Quanto à sua utilização, que tivemos hipótese de fazer em várias condições, sejam elas subidas, descidas, plano, com piso seco ou lama, bem como por várias horas ininterruptas, constatámos que embora seja uma bicicleta muito capaz para toda a utilização do dia-a-dia, está de facto mais vocacionada para descer e/ou terrenos técnicos, onde se sente em casa e devolve uma sensação de controlo, segurança e confiança.
No entanto, a rolar e a subir torna-se mais lenta relativamente a uma bicicleta vocacionada puramente para crosscountry, principalmente com os pneus que utilizámos, os Maxxis REKON 2.4 (e não os Schwalbe Wicked Will 2.4 que montam de origem), tornando-se pior em pisos húmidos ou com lama/barro, onde tivemos a sensação de estar a puxar por um trator. Em descidas técnicas, singletracks e piso seco é “deixar ir que ela aguenta tudo” sendo também bastante ágil.
A resposta de toda a suspensão é muito boa, reconhecendo bem os sulcos no terreno, pedras ou raízes e respondendo de forma assertiva, não afundando demais nos pequenos impactos e permitindo uma pedalada sentada muito confortável e sem grandes perdas de potência. No entanto, quando precisamos que ela faça um trabalho mais agressivo, ela responde à letra, com uma progressão excelente. Quando completamente bloqueada, não há muito a dizer: é como que se de uma bicicleta rígida se tratasse.
Esteticamente, é uma bicicleta que nos prende a atenção, precisando apenas (e como gosto pessoal), de alguns toques de cor, sendo toda ela preto matte.
Está dentro dos quadros que mais gostamos, pois, apesar de ser suspensão total, o amortecimento traseiro não nos “ocupa” a visão e permite o espaço necessário para duas grades de bidão.
Mais informações e detalhes técnicos em www.scott-sports.com, distribuidor para Portugal www.jasma.pt.