A pré-época e a construção da forma física do atleta amador e profissional.
Os primeiros passos…
O início dos treinos deve ter como pano de fundo o calendário que o atleta irá realizar, onde devem desde logo sobressair os eventos competitivos que serão mais importantes. Apesar de aparentemente o trabalho de preparação física inicial poder ser de uma forma geral mais genérico, consoante o nível de comprometimento do atleta com os seus objectivos e tendo também em conta o nível competitivo que pretende alcançar, a fase preparatória deverá ser desde logo delineada para ir estimulando desde início as estruturas musculares e sistemas energéticos que preconizamos optimizar ao longo dos vários meses de treino.
Apesar de poder não ser de todo descartável, na minha opinião o recurso ao treino geral e variado, onde se podem realizar exercícios menos específicos, pode ser uma excelente solução, principalmente para a fase de transição entre épocas, em que, para não haver uma “paragem total”, o ciclista pode experimentar outras atividades físicas de forma a quebrar a rotina e a manter-se ativo.
A pré-época
Assim, para quem vive o a modalidade com mais rigor e empenho, nesta fase temporal o treino físico deve partir de uma base que à medida que se vai evoluindo ao longo das várias semanas, se torna num processo cada vez mais específico na mesma proporção com que se vai aproximando das primeiras provas.
O fenómeno do treino
Hoje, assiste-se a um fenómeno interessante, em que numa dimensão não profissional, encontramos cada vez mais atletas (de diferentes escalões etários) a treinar afincadamente, com mais método e rigor. O recurso a profissionais na área da Saúde, Desporto e Nutrição para ajudar em todo o processo é uma realidade e uma mais valia que tem vindo a contribuir para a elevação do nível competitivo, para uma maior base de conhecimento acerca de treino e planeamento e para um melhor e mais eficaz controlo do mesmo.
Apesar de, em Portugal propagarem a olhos vistos “treinadores”, poucos são os que tendo uma base científica de conhecimento na área do treino e saúde estão efetivamente a exercer na área. Situação precária e por vezes prejudicial para a evolução e saúde dos atletas, pois o treino é um processo que vai muito mais além do que prescrever aleatoriamente horas em cima da bicicleta…
A construção da forma física
O processo de treino no ciclismo, e como fui alertando nos parágrafos anteriores, é um processo de modificação fisiológica do atleta, onde os estímulos “sofridos” pelo mesmo, devem ser direcionados para produzir determinadas adaptações. Ou seja, procurar melhorias de desempenho no individuo através de modificações nas suas capacidades físicas, que ocorrem por alterações fisiológicas significativas. Em modalidades de resistência, o resultado do processo de treino é completamente diferente e muito mais minucioso e moroso que por exemplo um treino de força no ginásio.
Ao fim de algumas sessões de treino no ginásio, o praticante começa logo a verificar alterações morfológicas, enquanto que em modalidades dependentes de uma tão preponderante componente cardio-respiratória, as adaptações mais significativas demoram muito mais tempo a se evidenciar. As cargas de treino a diferentes intensidades, procuram estimular o organismo em todo um processo cíclico de produção de energia ao longo de milhões de pedaladas, durante centenas de quilómetros.
O gesto de pedalar pressupõe a execução de força ao longo de todo um gesto técnico que se repete a cada segundo. Por ser uma solicitação tão extenuante das fibras musculares, o organismo necessita de bastante tempo para se adaptar a um sistema tão minucioso de fornecimento de energia de uma forma constante e ao longo de várias horas (sem interrupções notórias).
Assim, cabe ao treinador planear os estímulos a que o atleta tem que ser sujeito, e a sequencia com que os mesmos devem ocorrer, de forma a promover toda essa adaptação.
É neste sentido que, tal como já alertei, todo processo de treino deve realmente ser conduzido e controlado por profissionais da área com conhecimento profundo e experiência, por forma a evitar os excessos (muito comuns) numa modalidade já por si tão exigente e extenuante.
Atualmente no ciclismo nacional, a pouco e pouco vai-se verificando um pouco mais o que se vai fazendo lá por fora, e já se dá mais relevo a estas questões e cada vez mais a desvalorizar os “empenos” sucessivos como forma de treino, que ao invés de contribuírem para algo positivo, podem ser os maiores entraves à evolução da performance desportiva.
A fisiologia do ciclista
Todo o mecanismo de treino que começamos a trabalhar desde a pré-época consiste na capacidade que o atleta tem de:
- captar oxigénio através das vias respiratórias para a corrente sanguínea;
- transportar grandes quantidades de oxigénio (energia) no sangue;
- difundir esse oxigénio através dos capilares para os músculos activos;
- utilizar esse oxigénio nos músculos para produzir energia (muita energia);
- remover os metabolitos (ácido láctico) produzidos pela combustão energética nos
- músculos ativos.
- Existem mais pormenores que poderiam ser aqui discriminados, mas que certamente iriam complicar mais a interpretação da ideia geral pretendida para este tema.
Sendo assim, a dinâmica semanal deve assentar no impacto que cada treino terá nesta modificação fisiológica. Nos dias que correm, o conhecimento sobre todos estes processos é demasiado amplo, logo, o treino pode ser cada vez mais especifico, direcionado e quantificado, pois a carga de treino em excesso e a intensidade inapropriada podem conduzir a uma estagnação na evolução do ciclista.
Conclusão
Apesar de haver atletas com objectivos idênticos, as necessidades que cada um tem de treino podem ser bastante dispares. Uma avaliação inicial das capacidades individuais irá ajudar a ter um melhor conhecimento sobre o trabalho a realizar, e as avaliações intermédias de controlo da evolução, ajudarão a perceber a eficácia do plano de treino pelas adaptações/melhorias registadas pelo atleta.
Bons Treinos – TrainingPeaks/TiagoAragao