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A organização do Giro d’Italia decidiu doar os prémios monetários devidos aos ciclistas pela 19.ª etapa, após um protesto dos corredores ter encurtado a tirada.

Organização do Giro doa prémios da 19.ª etapa após polémica com ciclistas
Photo Credits: LaPresse

O dia, ganho pelo checo Josef Cerny (CCC), começou com uma polémica alteração da que seria a mais longa etapa do Giro, com 258 quilómetros previstos, mas que acabou reduzida a 124 quilómetros.

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“Os prémios da etapa de hoje serão doados pelos organizadores a um centro médico empenhado na luta contra a covid-19”, pode ler-se numa publicação na rede social Twitter feita pela conta oficial da ‘corsa rosa’.

O mau tempo, que já era previsto para esta etapa, e a extensão foram as principais queixas dos ciclistas, que apresentaram várias razões, desde a perda de capacidade do sistema imunitário no meio da pandemia de covid-19 ao cansaço acumulado, riscos para a saúde e outras queixas.

A organização cedeu, mas sem prometer uma análise posterior ao incidente, que poderá levar a ações judiciais, e os autocarros das equipas foram ‘apanhando’, em alguns casos literalmente, os ciclistas que seguiram para a estrada, para aquecer ou para a partida, transportando toda a comitiva para Abbiategrasso.

O diretor da prova, Mauro Vegni, foi mais longe na chegada a Asti e garantiu que “os culpados deverão pagar”, prometendo aos instigadores do protesto, que foi revelado a momentos da partida, uma batalha judicial.

“Sinto, sobretudo, desilusão, é a palavra, porque tentámos montar o Giro, foi muito difícil, e queríamos dar um sinal de que este é um desporto corajoso. A etapa de hoje esmaga qualquer esforço”, atirou.

Segundo Vegni, a organização soube do que se passava “a cinco minutos da partida”, com a imprensa especializada a reportar uma votação, realizada na Internet, feita por representantes de todas as equipas, com todas menos duas a pedirem um encurtamento da tirada.

Apesar dessa garantia, muitos ciclistas alinharam à partida, com alguns, como o italiano Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo), a garantirem que não souberam de qualquer votação.

“Sabia que havia discussões na quinta-feira, mas não me parecia que surgisse qualquer decisão sobre pedir para encurtar a etapa. Já corremos em piores condições. Hoje foi no limite”, defendeu o italiano, o único em prova que já venceu as três grandes Voltas.

Por outro lado, a Bora-hansgrohe do eslovaco Peter Sagan, que lutava pela classificação dos pontos, disse hoje que o protesto “não foi correto”.

“É verdade que a etapa anterior foi muito dura, com mais de 5.800 metros de acumulado de subida, com a dificuldade particular do Stelvio. Também é verdade que saímos do hotel às seis da manhã e com condições meteorológicas difíceis. Mas era possível correr, e acho injusto informar os organizadores desta forma. Foi pouco profissional”, atirou Ralph Denk, diretor geral da equipa alemã.

A votação, feita através da plataforma ‘online’ Telegram, foi levada a cabo pelos representantes de cada equipa da Associação de Ciclistas Profissionais (CPA), abrindo uma polémica que parece ‘esticar-se’ no tempo com os processos judiciais anunciados pela organização.

À televisão italiana Rai, o representante da CPA no Giro, Cristian Salvato, explicou que foi contactado por ciclistas, que lhe pediram a redução na quilometragem, ao que o próprio indicou que as condições já estavam delineadas muito antes do arranque da 103.ª edição.

A chegada tardia aos hotéis e saída madrugadora já hoje, com três dias de alta montanha nas pernas, levou à insistência dos corredores, ainda que muitos dos 133 ainda em prova se tivessem equipado e preparado como se fosse um dia normal.

“Comi para fazer 260 quilómetros, vesti-me para isso, mas a dois minutos da partida só vejo uns 25 ciclistas”, entre eles os líderes das classificações, como o português Ruben Guerreiro (Education First), revelou o belga Thomas de Gendt (Lotto Soudal).

Os ciclistas juntaram-se, depois, numa das tendas da organização a discutir com Mauro Vegni e comissários da União Ciclista Internacional, num momento em que Adam Hansen (Lotto Soudal) se tornou proeminente.

“Falou por ser dos mais velhos, é a pessoa com quem conversam, não como ciclista da Lotto” mas como representante da CPA, adiantou de Gendt.

A 103.ª edição da Volta a Itália em bicicleta decorre até domingo, em Milão, com o holandês Wilco Kelderman (Sunweb) na liderança da geral, Ruben Guerreiro com a montanha matematicamente assegurada e João Almeida (Deceuninck-QuickStep), antigo líder por 15 dias, no quinto lugar da geral.

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