O checo Josef Cerny (CCC) venceu hoje uma 19.ª etapa do Giro d’Italia que fica marcada pela polémica em torno do protesto do pelotão, que encurtou a tirada para descontentamento dos organizadores.
Cerny, de 27 anos, cumpriu os 124 quilómetros de um dia que seria de 258, entre Abbiategrasso e Asti, em 2:30.40 horas, depois de integrar a fuga e chegar isolado, 18 segundos à frente do belga Victor Campenaerts (NTT), segundo, e 26 diante do italiano Jacopo Mosca (Trek-Segafredo), terceiro.
Na geral, não surgiram alterações nos primeiros lugares, com o pelotão a chegar a 11.43 minutos de Cerny, com a geral a continuar a ser liderada por Wilco Kelderman (Sunweb), que na quinta-feira ‘roubou’ a camisola rosa a João Almeida (Deceuninck-QuickStep), que segue em quinto a 2.16 minutos.
O australiano Jai Hindley, colega de equipa do ‘maglia rosa’, segue em segundo a 12 segundos, e em primeiro da classificação da juventude, com o britânico Tao Geoghegan Hart (INEOS) em terceiro, a 15.
O mau tempo, que já era previsto para esta etapa, e a extensão de 258 quilómetros da tirada mais longa foram as principais queixas dos ciclistas, que apresentaram várias razões, da perda de capacidade do sistema imunitário no meio da pandemia de covid-19 ao cansaço acumulado, riscos para a saúde e outras queixas.
A organização cedeu, mas sem prometer uma análise posterior ao incidente, que poderá levar a ações judiciais, e os autocarros das equipas foram ‘apanhando’, em alguns casos literalmente, os ciclistas que seguiram para a estrada, para aquecer ou para a partida, transportando toda a comitiva para Abbiategrasso.
Aí, deu-se uma nova partida, até Asti, com uma fuga a gerar-se, perseguida por uma Bora-hansgrohe que protegia o eslovaco Peter Sagan, mas que não teve ajuda, nem da Groupama-FDJ, do francês Arnaud Démare, nem de outras equipas que pudessem querer tentar o ‘sprint’.
A fuga acabou por vingar e, tendo distanciado os rivais a mais de 15 quilómetros da meta, coube a Cerny, campeão checo de contrarrelógio, fazer um ‘crono’ até à meta, chegando com vantagem confortável a Asti, à frente de outros 13 fugitivos.
“Ainda não acredito. Foi tão rápido, é incrível. Não posso descrever isto, estava muito feliz de ter tido a sorte de entrar na fuga. No fim, foi mesmo só a questão de quem tinha melhores pernas”, resumiu Cerny, que aos 27 anos consegue a primeira vitória em grandes Voltas.
O pelotão chegou mais de 11 minutos depois e, apesar da tentativa de Hart, não se registaram diferenças na geral, que terá no sábado, na alta montanha, e no domingo, no ‘crono’, as últimas batalhas, com Kelderman de rosa.
O primeiro dia na ‘maglia rosa’ para o holandês foi “muito especial”, explicou no final da tirada, e depois de ter desfrutado “cada minuto da etapa”, mesmo com o frio e a chuva.
“Estou ansioso para amanhã [sábado], o último dia difícil. Vou dar tudo o que tenho, e depois veremos o que acontece no contrarrelógio” de domingo, atirou.
A jornada foi tranquila para os portugueses, com João Almeida (Deceuninck-QuickStep), 18.º na etapa, a seguir em quinto na geral, e terceiro na classificação da juventude, no primeiro dia sem a rosa, e Ruben Guerreiro (Education First), 82.º, a manter-se em 37.º na geral e a precisar apenas de completar a 103.ª edição da ‘corsa rosa’ para vencer a classificação da montanha, já matematicamente garantida.
Também ‘arrumada’ fica a luta pela ‘maglia ciclamino’, da classificação dos pontos, uma vez que a fuga retirou a Peter Sagan a possibilidade de ‘tramar’ Démare, que foi sempre melhor nos ‘sprints’.
No sábado, corre-se a última etapa em pelotão do Giro, com um dia de alta montanha entre Alba e Sestriere, em 190 quilómetros, com uma subida tripla a Sestriere como principal teste antes do contrarrelógio individual de domingo, em Milão.