Jan Tratnik (Bahrain-McLaren) resistiu a um ‘mini pelotão’ de quase 30 fugitivos para vencer a 16.ª etapa do Giro d’Italia, liderado por um João Almeida (Deceuninck-QuickStep) que hoje deu uma demonstração de força.
Tratnik, de 30 anos, cortou a meta ao cabo de 6:04.36 horas, o tempo necessário para percorrer os 229 quilómetros entre Udine e San Daniele del Friuli, sete segundos à frente do australiano Ben O’Connor (NTT), segundo, e 1.14 minutos antes do italiano Enrico Battaglin (Bahrain-McLaren), terceiro, com os três a serem integrantes da fuga do dia, que teve quase 30 elementos.
Na luta pela geral, João Almeida, que seguia no pelotão, atacou já nos derradeiros metros e ganhou dois segundos à concorrência, tendo dois homens da Sunweb como mais próximos perseguidores: o holandês Wilco Kelderman, segundo a 17 segundos, e o australiano Jai Hindley, terceiro a 2.58 minutos.
Naquela que foi, talvez, a última das oportunidades para ‘caçadores’ de etapas antes da alta montanha, que se espraia quase até domingo, com exceção de um dia para os ‘sprinters’, notou-se a ‘fome’ de vitórias: quase 30 ciclistas ganharam largos minutos de vantagem, dissipando quaisquer dúvidas de que seriam eles a disputar o triunfo.
Nesse grupo seguiam ainda dois outros ciclistas com segundas intenções, no caso o português Ruben Guerreiro (Education First), que, além de procurar nova vitória em etapas, queria somar pontos na classificação da montanha, e o líder dessa tabela, o italiano Giovanni Visconti (Vini Zabù-KTM).
A ‘batalha’ entre os dois começou por pender para o luso, mas Visconti aproveitou um problema mecânico, num dos topos pontuáveis, para recuperar, e acabou por perder apenas um ponto para Guerreiro: lidera com 148, contra 118 do português.
No final, Tratnik isolou-se quando o ‘mini pelotão’ se fragmentou e, mesmo que O’Connor se lhe tenha juntado, acabou mesmo por ser o mais forte, depois de uns 30 quilómetros a solo na frente.
Foi na “última oportunidade” e a correr “mesmo ao lado da Eslovénia”, num dos pontos mais próximos de Itália ao seu país natal, que Tratnik conseguiu o que viria a ser o primeiro triunfo de uma ‘dobradinha’ daquele país, com a vitória do compatriota Primoz Roglic (Jumbo-Visma) na etapa inaugural da Volta a Espanha.
“Hoje foi especial, foi muito à justa. Na chegada, vi o meu irmão e a minha namorada. […] No topo da última subida, o O
‘Connor apanhou-me e trabalhámos bem juntos, mas estava há 50 quilómetros sozinho”, conta.
Ainda assim, encontrou forças depois de se ver “no limite”. “A 500 metros da meta, vi a minha namorada. Tive logo energia extra e ‘voei’ até à meta”, contou.
Atrás, na luta pela geral, a Deceuninck-QuickStep impôs um ritmo alto na subida, depois de ter intuído um momento de menor força dos adversários, e selecionou um grupo de favoritos cada vez mais restrito, antes de João Almeida lançar um grande ataque, numa demonstração de força.
Mais do que os dois segundos ganhos, que o próprio – depois de cortar a meta em 28.º, atrás de Ruben Guerreiro, que foi 27.º após esbater na fuga – considerou serem “marginais” para as contas finais, o ataque do jovem português serviu para expor Kelderman, que ‘obrigou’ Jai Hindley a trabalhar para fechar o espaço atrás do luso.
Na quarta-feira, a 17.ª etapa liga Bassano del Grappa a Madonna di Campiglio em 203 quilómetros, com três contagens de montanha de primeira categoria, a última delas a coincidir com a meta.
Os vários dias de alta montanha serão, agora, o teste “muito difícil” que João Almeida está ciente que tem pela frente, chegando aos 14 dias a liderar a ‘corsa rosa’ e a pensar em Milão, no domingo, jornada de encerramento da 103.ª edição.