O irmão de Ruben Guerreiro, Francisco Guerreiro, viveu o Giro d’Italia, com “bastante orgulho”, procurando seguir as pisadas do mais velho.
“Tenho-o visto com bastante orgulho, e fico muito feliz por ele fazer uma grande Volta a Itália. Fico muito contente e a minha família também. O objetivo dele sempre foi tentar ganhar uma etapa, através das fugas, e conseguiu”, revelou o jovem ciclista.
Este resultado do irmão, contou, serve como “motivação extra”. “Sei que o tenho para me ajudar. Todos os conselhos [que o irmão mais velho lhe endereça] são para eu crescer como pessoa e ciclista. Motiva-me e ajuda-me bastante”, completou.
Este orgulho quase esbarrou no dever e dedicação à bicicleta, uma vez que na nona etapa, na chegada a Roccaraso em que Ruben brilhou, quebrando um jejum de vitórias em etapa de portugueses em vigor desde 1989, o jovem “tinha um treino grande”.
“Sabia que ele estava na fuga e sabia que podia ser uma oportunidade para discutir a etapa. Ia parando o treino, a ver como estava. Quando estava quase a chegar a casa, vejo que vai fugido com o [Jonathan] Castroviejo. E eu ‘olha, vamos lá ver’. Parei e vi a etapa pelo telemóvel. Sei que tem uma ponta final em que é rápido, em condições normais era mais rápido do que o Castroviejo. Assim foi”, revelou.
Ainda assim, o corredor que em 2020 representou a Sicasal não perdeu a compostura. “Acho que nem passou nenhum carro por mim. Estava a ver aquilo… acho que nem reagi”, atirou.
Aos 20 anos, Francisco Guerreiro vai fazendo a sua carreira no escalão sub-23, perdendo, em setembro, a oportunidade de correr a Volta a Portugal pela seleção nacional, após um caso de covid-19 afastar aquela equipa da prova.
“Este foi um ano um bocado complicado para o ciclismo português e os jovens da minha idade. Houve poucas corridas e foi complicado fazer resultados. Por enquanto, vou fazer mais um ano cá por estes lados, em Portugal, e Deus queira que um dia possa dar o salto, como ele [Ruben] fez”, manifestou.
O desabafo do mais jovem dos Guerreiro vai ao encontro do que “todos os ciclistas desta idade sonham e para que trabalham”, o de correr no estrangeiro, ainda que em dia estejam abertas “bastantes oportunidades”.
“No ciclismo português, há uns anos, as camadas jovens eram mais desvalorizadas. Não tinham tantas oportunidades.Com estes ciclistas a surgir lá fora, que são novos e já mostram bastantes resultados, abrem-se bastante oportunidades para que mais possam sair e conseguir resultados”, comentou.
Além da etapa, Ruben Guerreiro consagrou-se também como o primeiro português a vencer uma classificação principal numa grande Volta, ao ser coroado ‘rei’ da montanha da 103.ª edição, que terminou em Milão.
Estes resultados podem, além de abrir portas para mais portugueses chegarem ao topo, motivar Francisco a mais, num momento em que, afirmou, está ainda a encontrar a especialidade.
“Ainda sou muito novo, estou a encontrar-me como ciclista. Gosto de subidas, mas sinto… sou um ciclista que faz contrarrelógios, que gosta de ‘sprintar’. Ainda estou a descobrir-me como ciclista”, explicou.
Certo é que tem um mentor privilegiado, em casa, que “tenta sempre ver o melhor” no irmão mais novo, “mesmo que, às vezes, seja difícil dizer as coisas como são”. “Quer sempre o meu melhor, tenta ‘lixar-me’ a cabeça. Eu tento seguir o que ele diz e tento ser como ele”, confessou.