– Como surgiu o Paraciclismo na sua vida?
Surgiu em 2012, por altura dos Jogos de 2012 em Londres, muito por força do mediatismo em volta do Alessandro Zanardi, antigo piloto de Formula 1 que é o atual campeão olímpico e mundial da minha classe.
– O que é que um atleta sente quando é selecionado para representar Portugal nos Jogos do Rio de Janeiro?
Senti que era a justa recompensa pelo trabalho que desenvolvi ao longo de 2014, ano em que obtive resultados que tiveram um grande peso na obtenção da primeira vaga para Portugal.
Nem por isso, ser o nº 1 do ranking mundial vale o que vale, é apenas um somatório de pontos e as contas fazem-se no final do ano, sendo que ainda faltam provas do calendário que podem mudar isso tudo, como por exemplo os Jogos Paralímpicos em que me encontro agora.
– Lida bem com a ansiedade competitiva? Por exemplo, na noite anterior a uma competição importante consegue dormir bem?
É normal sentirmos alguma ansiedade nessas situações, mas eu felizmente não sofro muito com isso. Durmo muito bem, felizmente.
Segui à risca todas as indicações que me foram dadas pelo meu treinador, o Sr. José Marques, que é também o selecionador nacional de Paraciclismo, bem como executei ao pormenor o plano de treinos elaborado pelo Professor Gabriel Mendes, também ele técnico da Federação Portuguesa de Ciclismo. De resto, 6 a 8 treinos por semana, planeados de modo a que chegasse ao Rio no pico de forma, o que acredito ter sido conseguido.
– O que falta ainda ao desporto adaptado em Portugal, comparado com outros países da Europa e do resto do mundo?
Falta quase tudo, infelizmente. O desporto adaptado em Portugal é o “parente pobre” da família desportiva e tarda em ser profissionalizado. Enquanto formos amadores, teremos dificuldade em evoluir. Espero conseguir contribuir para mudar isso.
Sei que por ser o líder do ranking mundial da minha classe os portugueses acham normal que vá ao pódio e se isso não acontecer ficam desiludidas. Isso causa-me alguma pressão, mas sei lidar bem com isso e estou preparado para explicar às pessoas o que correu bem ou mal, consoante os resultados que venha a obter. Sem desculpas nem rodeios. Estou a competir com os melhores do mundo, só tenho que mostrar que sou um deles.
– O que é necessário para se tornar um atleta “profissional”?
Simples: bolsas ou contratos de trabalho no valor de montantes que permitam aos atletas dedicar-se em exclusivo à modalidade que praticam. É impossível competir de igual para igual com os melhores do mundo se temos que trabalhar o dia inteiro e treinar à noite, sem tempo para descansar. O treino, a alimentação e o descanso compõem a fórmula de sucesso do atleta de elite. Se uma das parcelas desta fórmula falha, os resultados nunca podem ser os melhores.
Um dos objectivos já foi conseguido, que era fazer pódios na Taça do Mundo, o que aconteceu 4 vezes, tendo acabado essa competição em 2º lugar da geral. Outro objectivo é conseguir bons resultados aqui nos Jogos Paralímpicos. Por fim, quero acabar o ano nos primeiros 3 do ranking mundial.
– Para a sua carreira quais são as grandes metas que pretende alcançar?
Ir aos Jogos Paralímpicos de 2020 em Tóquio e ganhar lá medalhas.
De um modo curto e grosso, estou a abdicar de um pouco de tudo o que é bom na vida, sobretudo da família e amigos. Mas acho que vale a pena, desde que a família e os amigos entendam que o faço para que se orgulhem de mim.