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Não há como não invejar esta “coleção” de bicicletas. Henrique Pinho, 41 anos, tem oito destas em casa. Todas dele. Serviram para a sessão fotográfica da Dry Drill, empresa fundada por Henrique em 2011, na Rua Oliveira Monteiro, no Porto. Não se trata de uma coleção no verdadeiro sentido da palavra. Entre Madrid, Milão e Berlim, Henrique viu muita gente acompanhada nas ruas.

“Não era só uma bicicleta. É uma pessoa com o seu acessório. Fiquei surpreendido. Comecei a debruçar-me sobre o suporte com design, uma indústria pesada e com muitas pessoas envolvidas num processo extremamente criativo”, conta.

Licenciado em Arquitetura, Henrique trabalhou cinco anos na Salsa, como responsável pelo desenho de todas as lojas da marca. Depois da saída da empresa, em 2005, o arquiteto decidiu voltar a estudar – fez o mestrado em Marketing e Retail Management, no ISCTE -, enquanto continuava a trabalhar como freelancer no projeto Factory (mais tarde transformado em The Style Outlets), em Vila do Conde. “Usei o meu know-how, numa espécie de visão de helicóptero. Já percebia o conceito de lojista e sabia que produtos funcionam sempre.”

As calças de ganga continuam a servir de comparação, mesmo quando fala sobre o negócio das bicicletas. “Não quero vender as primeiras calças de ganga. Quero vender umas calças de ganga com tecido japonês, com um corte especial e a pessoas que já têm 20 pares de calças de ganga em casa. E para toda Europa, porque o meu objetivo é claramente internacional.”

Durante um ano pensou num negócio próprio, depois de abandonar a Tiffosi – onde dirigiu o departamento de marketing da marca -, e em setembro de 2010 foi à Eurobike, a maior feira do setor das bicicletas, na Alemanha, e ficou “de boca aberta”. Investiu 50 mil euros de capitais próprios na Dry Drill, uma marca de bicicletas Fixie personalizadas e feitas por encomenda.

“Sou um teimoso por natureza e decidi fazer algo especial. Procurei parceiros. Portugal deixou-se atrasar, distraiu-se. As pessoas ficam a olhar, de boca aberta, porque julgam que não conseguem fazer o mesmo que se faz no estrangeiro. Todos os dias pensava: “Vou desistir.” Mas depois vem o sentimento contrário. “Desistir não faz parte do meu vocabulário.”

O investimento exclusivo em capitais próprios está relacionado com dois fatores: o atual difícil acesso ao crédito e a vontade de não fazer depender a empresa da vontade de qualquer banco ou do próprio Estado, através da atribuição de um subsídio. “Para ganhar dinheiro é preciso arriscar dinheiro. Por isso, claro que é preciso tê-lo”, defende.

Apesar de as fábricas de Taiwan serem responsáveis pela maior parte da produção mundial de bicicletas (produzem vários milhões por ano; aliás, uma fábrica que não produza pelo menos mil bicicletas por dia não considera a produção aliciante), as empresas exigiam o cumprimento de uma série de requisitos. “Em janeiro de 2011 comecei a receber amostras. Na Europa produz-se muito pouco e as fábricas de Taiwan exigem dois meses para produção e outros dois para transporte. Além de encomendas de pelo menos um contentor – o que, à parte de ser um investimento incomportável não dá garantia de entrega rápida ao cliente. Esse regime era impossível para mim, não podia estar a trabalhar com tal investimento. Fui mais radical: perante os obstáculos – e ainda bem que eles apareceram -, repensei o negócio.”

Decidiu então dedicar o projeto à produção e venda de apenas dois elementos da bicicleta, o quadro e as rodas, porque “todos os outros elementos estão disponíveis na Internet ou em qualquer loja. O difícil é escolher”, garante. E encontrou na Órbita e na Sangal os parceiros ideais.

A Dry Drill vende quadros (a estrutura) e rodas de bicicletas em 12 cores diferentes. Uma bicicleta pode demorar até 15 dias a chegar a qualquer morada europeia, desde o momento em que é feita a encomenda. “O cliente é que manda. Não tenho prateleiras com dez quadros vermelhos. Estão em bruto para não haver deterioração do aço e são pintados após a encomenda. É, digamos, um fato feito à medida.” Ao mesmo tempo, Henrique diz querer desenvolver um “nicho de produção artesanal de bicicletas, tanto para as marcas como para os consumidores”. “Este é um processo tão viciante que não se consegue deixar de o fazer. Pode haver outras parecidas, mas como estas não existem.”

Com perspetivas de faturar 400 mil euros em 2012, o arquiteto decidiu investir sozinho na empresa. “Estava na altura de fazer algo português que me fizesse sentir que vale a pena estar cá. Isto não é a minha crise dos 40. É, antes, a minha aposta para os próximos 40 anos.”

Sozinho na gestão e no desenvolvimento do produto da Dry Drill, Henrique conta com a ajuda dos parceiros de produção e com a colaboração de fotógrafos e produtores de moda, para lançar a marca. “São pessoas que dissolvem o peso do desenvolvimento da empresa. A Dry Drill é um cluster de empresas da mesma geração, empenhadas no sucesso e que acreditam que este é o modelo do futuro.”

Quanto ao uso da bicicleta como veículo de transporte comum, Henrique acredita que o processo vai ser rápido. “O terreno não é uma condição para a utilização da bicicleta. Os portugueses continuam a associá-la a um veículo de gente pobre. Mas é uma postura que vai mudar. Em breve, usar a bicicleta vai ser uma coisa vulgar. Não sou o primeiro nem o único, mas criei uma marca minha para brincar com isto das cores nas bicicletas.
 
Retrato
Henrique Pinho é o único sócio da DryDrill e investiu 50 mil euros na criação da empresa, em 2011. O valor vai duplicar este ano. O investimento total foi feito com capitais próprios. A DryDrill trabalha com duas fábricas na produção de quadros e rodas: Órbita e Sangal. Independentemente da cor, cada quadro de bicicleta custa 380€. As rodas variam entre 140€ e 160€. www.drydrill.com
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