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Esforço recompensado com estreia olímpica de Portugal, entrevista a David Rosa.

1 – Como reagiu depois de saber que Portugal afinal sempre estava apurado para a prova de cross-country?

Reagi de uma forma efusiva, pois foi um objectivo para o qual contribuí de uma forma árdua nos últimos dois anos e pelo qual abdiquei de muito na minha vida pessoal. Foi também uma vitória de todos aqueles que contribuíram para a qualificação (atletas, federação, patrocinadores, organizadores, etc.). 

2 – E como reagiu quando o seleccionador nacional lhe disse que seria o escolhido?

Com satisfação claro, embora o ideal fosse levarmos 3 atletas pois foi um esforço de todos. Sei o que trabalhei e os meus resultados foram, desde sempre, consistentes. Ao ser TriCampeão Nacional de Elite e o atleta com mais pontos em ambos os anos de qualificação Olímpica, era algo que jogava a meu favor. Sei que fiz tudo ao meu alcance para que em primeiro lugar tivéssemos a vaga Olímpica e depois, logo se via. Cheguei a fazer bastantes provas em completa autonomia para países longínquos, tendo de me preocupar com coisas tão simples como quem me iria dar abastecimento, ou mesmo ter de usar o Google Tradutor para perceberem o que queria jantar, entre muitas outras aventuras e desventuras.

3 – Em traços gerais, como se processou a qualificação?

A qualificação foi feita em dois anos separados: 20 de Maio 2010 a 22 de Maio 2011 e daí até 20 de Maio 2012. Somaram-se os pontos (ganhos em provas de categoria internacional) dos 3 atletas mais cotados de cada país e isso deu o ranking de nação. Ou seja, foi um esforço de equipa para que se colocasse Portugal o mais acima possível. O top24 tinha logo acesso directo, nós ficámos em 25º a muito pouco do apuramento directo. Nas últimas semanas do período de qualificação batalhámos para manter esse lugar (contra a Dinamarca), pois na eventualidade de haver uma vaga seríamos os primeiros a ser apurados. Assim o fizemos e assim o conseguimos.

4 – Qual vai ser agora o objectivo a atingir em Londres?

O facto de estarmos lá já é uma vitória, no entanto, se fizesse um top30 era muito, muito bom. Não é de todo impossível, até porque em algumas provas já fiquei à frente de bastantes atletas de países mais bem cotados. O único objectivo concreto que já propus a mim mesmo é o de deixar tudo na pista naquele dia, aí, seja qual for o resultado fico feliz.

5 – Qual é o plano de trabalho até a viagem para Londres?. Disseste que estarias na disposição de abdicar de tudo para te preparares da melhor maneira. Explica melhor o que queres dizer com abdicar de tudo? Para além do BTT, o que fazes? Estudas?

Está a ser discutido com o meu treinador, Gabriel Mendes e com o Seleccionador Nacional, Pedro Vigário. Já sei os moldes em que se vai processar, tendo algumas competições importantes até lá para subir o ritmo. O abdicar de tudo prende-se com o facto de saber que para estar a 100% na prova, dia 12 de Agosto, posso não o estar em competições que a antecedem. É a prova mais importante de todas e se tiver de abdicar de uma boa prestação numa prova ou noutra compreendo perfeitamente. 

Tirei o curso de Educação Física e Desporto Escolar na Faculdade de Motricidade Humana de 2004/2005 a 2008/2009, o que nos primeiros dois anos por não conseguir gerir correctamente o tempo motivou um decréscimo do rendimento desportivo. Depois foi o Mestrado, na mesma Faculdade, que terminei em 2011. No ano lectivo 2010/2011 comecei a leccionar Educação Física em escolas primárias (AEC’s), actividade que suspendi em Fevereiro deste ano, pois com a quantidade de provas no estrangeiro que ia fazer ia passar muito tempo fora, não leccionando, e sendo uma actividade a recibo verde não compensava. Assim, nestes últimos meses consegui-me dedicar à modalidade com o apoio do Grupo de Atletismo de Fátima, Construções Divireis, Câmara Municipal de Ourém e Junta de Freguesia de Fátima.

6 – Tu és de Fátima. És católico, costumas ir aos Santuário de Fátima? Vais lá rezar para te ajudar nos Jogos Olímpicos?

Pois, sou de Fátima e até sou sobrinho-bisneto dos pastorinhos. Respeito todas as crenças religiosas que vou encontrando nos vários países por onde passo. 

7 – O BTT tem um grande salto nos últimos anos em Portugal. Hoje em dia qualquer pessoa tem uma bicicleta e as provas de BTT têm cada vez mais participações. Agora com a ida aos Jogos Olímpicos, pensas que é expoente máximo da modalidade?

Sinceramente acho que sim, pois a modalidade nunca teve tanta exposição. O BTT é modalidade Olímpica desde Atlanta 96′, e agora, 16 anos depois, temos a primeira participação. É a oportunidade de mostrar a modalidade ao público em geral. O BTT, em todas as suas vertentes, é das modalidades com maior número de praticantes (incluindo amadores) no nosso país. É incrível o número de praticantes que se juntam todos os fins-de-semana em provas de XCO, Maratona, Downhill, provas de resistência, passeios, etc. Nestes últimos dois anos verificou-se particularmente um aumento do número de praticantes em XCO e da qualidade das provas em Portugal, facto esse realçado também pelos atletas estrangeiros que cá vieram competir (especialmente nos últimos meses). 

8 – Explica em traços gerais quantas horas treinas por dia e que cuidados tens, por exemplo, com a alimentação.

Depende muito da fase em que me encontro da época. Pode variar entre a 1h30 as 4 horas, bidiário ou não, em certas alturas faço ginásio… Tenho alguns cuidados com a alimentação, nomeadamente evitar fritos, comer carnes brancas e ter uma suplementação adequada. Nunca tive problemas com peso a mais e isso é menos uma preocupação.
Entrevista Record 28/06/2012
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