Foi no passado dia 30 de agosto que Diogo Casaleiro, de 40 anos de idade e residente em Freiria (concelho de Torres Vedras, de Joaquim Agostinho e outros ciclistas profissionais de renome), percorreu em bicicleta os 526 km que ligam esta localidade a Vila Real de Santo António no Algarve, numa viagem inédita a solo, que foi para além do que é uma normal etapa de longa distância.
Engenheiro na Câmara Municipal de Mafra, é um ciclista puramente amador desde que, ao realizar em 2017 uma viagem de trabalho a uma cidade europeia, se lembrou de recorrer a uma bicicleta para fazer uma volta relâmpago de reconhecimento da cidade antes do início da reunião agendada. Passado pouco tempo, teve que levar o carro à revisão a Torres Vedras e valeu-se novamente do modo bicicleta para os 15km de regresso.
Estas duas experiências foram tão positivas, que desde então, as diversas vantagens do uso de bicicleta nos mais variados âmbitos fizeram com que se apaixonasse por este modo de deslocação, transmitindo essa paixão para a família, amigos e colegas. A titulo de exemplo dessa agremiação, organizou há cerca de 1 ano um passeio de famílias para percorrerem os 50 km da Ecovia do Dão no distrito de Viseu.
Começou com pequenos passeios de 10km BTT na zona da Freiria e foi aumentando progressivamente as distâncias percorridas nos seus já habituais passeios amadores de domingo pela região, que passam amiúde pela Ecovia do Sizandro e outras ciclovias locais, sobretudo quando se acompanha da família.
Segundo o mesmo, andar de bicicleta é, tal como andar a pé, a forma mais ecológica e próxima de conhecer e experienciar com os 5 sentidos os sítios, de uma forma que de carro não conseguiríamos fazê-lo, com a vantagem de poder realizar passeios de distâncias semelhantes e com relativa facilidade.
Aliás, a preferência por longos passeios levou-o a adquirir há menos de 1 ano aquela que apelida de “papa kms”, uma singela bicicleta usada de estrada em alumínio que, apesar de ser de baixa gama, permitiu-lhe passar a fazer percursos de 100 km com mais frequência.
Porém, foi em BTT que concretizou em junho um sonho antigo: percorrer a costa atlântica desde Viana do Castelo até Lisboa. Foram mais de 560 km maioritariamente em ciclovias e ecopistas que atravessaram paisagens fantásticas, solitariamente percorridos em 3 dias inesquecíveis.
Foi ainda durante esta viagem que a sua obstinação por grandes desafios o levou a equacionar uma outra viagem de extensão semelhante, mas a cumprir num só dia apenas. Assim nasceu a ideia de fazer uma ligação oeste – sotavento algarvio, substituindo a deslocação de carro para o local de férias.
Ciente da dificuldade de uma jornada única de 526 km e mais 3750 m de elevação para alguém sem qualquer acompanhamento e preparação específica como é o seu caso, testou as condicionantes físicas, psicológicas e logísticas no início de agosto, numa viagem solitária de 240 km (cerca de metade do ambicionado) de ida e volta a Fátima por estrada. Tendo corrido bem, e até melhor do que o esperado, a motivação e confiança para cumprir o objetivo ficaram no máximo.
E assim se cumpriu no dia 30, com a partida da igreja na sua “papa kms” pelas 0:30h, passando por Torres Vedras em direção à ponte de Vila Franca de Xira para atravessar o Tejo. Eram já 7:00h quando o sol nasceu em Alcácer do Sal e retirou a dificuldade e o perigo de circular em total escuridão fora das localidades, como foi o caso dos extensos montados do distrito de Setúbal. Por volta das 9:00h chegou à costa alentejana na zona da Melides, tendo prosseguido em velocidade cruzeiro de quase 30 km/h até Sagres, atravessando zonas onde a temperatura superou os 35ºC.
Chegado a esse local mítico pelas 16:00, daí percorreu toda a EN125 em direção a Este, enfrentando ventos muitos fortes até Portimão originando episódios de quase queda. À passagem por Albufeira a bicicleta, sendo fraca, partiu um dos componentes da transmissão e partir de Faro foi o sono, obstáculo perigoso e inesperado, que dificultou bastante a pedalada.
Foram mais de 23h a pedalar (e cerca de 15l de água consumidos) com dores que foram aparecendo em diversos pontos mas que a adrenalina atenuou, tendo por sua exclusiva conta o confronto com o vento e o desgaste físico e psicológico inerentes ao esforço a solo. Foi recebendo pontualmente a preocupação e o apoio emocional transmitidos telefonicamente pela sua família, que aliás é sempre fator fundamental para o sucesso dos seus desafios.
E foi precisamente a sua família que o acolheu à chegada à cidade de Vila Real de Santo António, já pelas 00:15h, exausto, mas com a alegria de ter aguentado os sacrifícios até ao fim e com isso ter demonstrado in loco aos seus descendentes a importância de valores como a resiliência e a determinação.
Agora que está concluído o desafio, confessa que os dias que antecederam foram de algum nervosismo, não pela distância, mas pelos perigos de queda ou atropelamento, adversidades meteorológicas e outros imprevistos que pudessem surgir, porém a motivação e o desejo de superação foram mais fortes.
Vídeo deste desafio de Diogo Casaleiro:
Aliás, ao longo desta dura jornada, que colocou à prova todos os seus limites, Diogo Casaleiro teve ainda disponibilidade mental e ousadia para começar a delinear o seu próximo desafio ambicioso que, sem querer desvendar para já o itinerário, espera vir a concretizá-lo brevemente.