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Parece uma viagem no tempo. Ferramentas espalhadas pelo chão, óleo nas mãos do mecânico, só o computador destoa da decoração (mesmo assim, o enorme e quadrado monitor branco acusa o peso da idade).
Um miúdo entra na loja com a bicicleta pela mão, cumprimenta o mecânico e pede-lhe para apertar a corrente, que saltou. Podia ter acontecido há 50 anos. Foi exactamente nessa altura que Amaro Graça começou a reparar bicicletas. Tinha 13 anos, hoje já vai nos 66. “Esta deve ser a loja mais antiga de Lisboa”, diz.  
Nesta oficina de bairro, na Rua Dom Jerónimo, em Algés (Lisboa), o que se perde em conforto para as lojas modernas, ganha-se em experiência: “Perdi a conta às bicicletas que arranjei.” Mas também se ouvem queixas. Muitas queixas. Da crise, dos impostos, das grandes superfícies que arruinaram o negócio, da vida e do mundo. Uns números ao lado, o cenário não é muito diferente. Com quatro lojas vizinhas, a Rua Dom Jerónimo, em Algés, é uma espécie de último reduto das velhinhas oficinas de bicicletas. Aníbal Nogueira tem a segunda loja mais antiga da rua: está ali há 30 anos. “Mas a minha família está no negócio das bicicletas há 80 anos”, corrige.
Do outro lado da cidade, na Avenida Rio de Janeiro, ao lado do mercado de Alvalade, estão os outros bastiões do comércio tradicional de bicicletas. A AIRAF e a Dimop vendem peças de bicicletas antigas, como as pasteleiras, e modelos novos da marca portuguesa Órbita. Os preços das bicicletas rondam os 100 e 200 euros – uma pasteleira Órbita custa 190€ e uma bicicleta de montanha de gama baixa fica por 130€.
Mas a reparação continua a ser a principal vocação destas casas. Mudar uma câmara de ar, por exemplo, custa 7 euros e são raras as reparações que ultrapassam os 20 euros.  Em grande parte, graças ao que dizem ser a má qualidade das bicicletas de supermercado, não lhes vai faltando trabalho.  
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