O Presidente da República e o Governo foram acusados de discriminar o ciclismo por não atribuírem tratamento igual às modalidades e aos feitos desportivos dos portugueses.
Perante um auditório repleto, o dirigente minhoto acusou também algumas autarquias e alguma comunicação social de tratamento diferenciado, defendeu o reforço dos apoios ao ciclismo regional e de formação, anunciou uma iniciativa junto do poder político para enquadrar todos os eventos na tutela das federações e apelou aos jovens atletas para que não descurem os estudos e conciliem a vida académica com a prática desportiva.
“O nível de progresso de um País também se mede pelo índice de prática desportiva e pela qualidade e quantidade do trabalho desenvolvimento na formação desportiva dos jovens. Por vezes, basta um pequeno reconhecimento público que confira visibilidade às modalidades – nem que este surja apenas quando um atleta alcança um feito desportivo de relevo – para que as dificuldades diminuam”, referiu José Luís Ribeiro lamentando que “infelizmente, nem isso aconteça e o ciclismo, como outras modalidades amadoras, continuem a ser discriminados por aqueles que mais responsabilidades têm”.
“Onde estavam o Presidente do República e o Governo quando ciclistas portugueses conquistaram títulos europeus e mundiais ? Como é possível um Presidente da República e o Governo continuarem a discriminar o ciclismo e a não atribuírem tratamento igual às modalidades e aos feitos desportivos das modalidades amadoras? Quantos títulos internacionais será necessário o ciclismo voltar a conquistar para que os titulares de cargos públicos se dignem reconhecer a modalidade ?”, questionou José Luís Ribeiro afirmando “não ser justo que o ciclismo seja considerado pelo IPDJ das primeiras modalidades nacionais em termos de desenvolvimento desportivo mas seja das últimas em termos de financiamento público”.
José Luís Ribeiro afirmou que “situação idêntica, infelizmente, ocorre também nalgumas autarquias do Minho que privilegiam algumas modalidades na atribuição de apoios e discriminam os nossos clubes de ciclismo”.
Os apoios ao desenvolvimento da prática desportiva e ao alto rendimento, a revisão dos estímulos do Estatuto do Mecenato e o incentivo e valorização do trabalho dos dirigentes desportivos voluntários são matérias que, segundo o dirigente minhoto, “se não forem urgentemente acauteladas vão contribuir para o rápido declínio do desporto”.
“É fundamental estimular e valorizar o trabalho desenvolvido no ciclismo regional e reconhecer que os clubes e as associações, movidos pelo trabalho voluntário dos seus dirigentes, são a base da construção do desporto e prestam à comunidade um serviço singular, mantendo ativos e dinamizando projetos que contribuem, por exemplo, para a integração social, a democratização da prática desportiva e a preservação dos valores do desporto”.
José Luís Ribeiro acusou ainda a comunicação social de “salvo raras exceções, só se lembra do ciclismo para noticiar casos de doping”. “Somos pelo jogo limpo e defendemos “tolerância zero” em relação ao doping mas – também neste assunto – não aceitamos tratamentos diferenciados. Não se percebe nem se aceita que a comunicação social e a própria população sejam benevolentes e desvalorizem casos de doping surgidos noutras modalidades mas sejam absolutamente implacáveis quando surgem casos no ciclismo”, disse reafirmando que a ACM “foi e continuará a ser pelos princípios e valores do desporto, nomeadamente, a ética, a honestidade, o espírito e a verdade desportiva”.
“Defendemos e continuaremos a exigir que a Federação Portuguesa de Ciclismo processe judicialmente os prevaricadores em matéria de dopagem reclamando indemnizações pelos prejuízos causados à modalidade”, referiu o dirigente relembrando que, desde 2014, a ACM alerta para “os sinais preocupantes em relação ao doping detetados, em especial, em eventos e competições não reconhecidas pelas federações desportivas”.
“Esses são eventos que fogem à tutela das federações e nos quais não existe qualquer garantia, por exemplo, de cumprimento das normas de segurança e da defesa da verdade e da ética desportiva, podendo, inclusive, estarem a contribuir para a proliferação do doping. Esses eventos são um sério problema do desporto atual e uma grave ameaça ao desenvolvimento desportivo, não apenas do ciclismo, configurando também uma flagrante e incompreensível concorrência desleal em relação a eventos desportivos devidamente oficializados pelas federações”, afirmou.
O Presidente da Associação de Ciclismo do Minho considerou ser “urgente enquadrar definitivamente todos os eventos nas respetivas Federações dotadas do Estatuto de Utilidade Pública Desportiva pelo que, acompanhando a evolução do fenómeno desportivo e antecipando o futuro, estamos a trabalhar, com o apoio da Federação Portuguesa de Ciclismo, numa proposta de alteração legislativa que oportunamente será apresentada”.
Aos jovens atletas, “que merecem o nosso carinho especial”, o dirigente minhoto fez um pedido: “continuem a divertir-se com o ciclismo mas nunca descuidem os estudos. É possível praticar desporto e ter bom rendimento escolar. O estudo e o desporto complementam-se e potencializam-se, sendo possível conciliar a carreira académica com a prática desportiva ao mais alto nível. Esse é o caminho certo, esse é um caminho de futuro”.
“Também não esquecemos – porque merecem uma palavra de apreço e de reconhecimento – as famílias dos atletas, dos dirigentes, dos restantes agentes desportivos, voluntários e patrocinadores. Sem o apoio deles, jamais se conseguiriam vencer as dificuldades”, concluiu.
Na iniciativa, que decorreu com grande entusiasmo e emoção, atuaram Marco Génio, a Academia Sara Salazar – Danças Orientais, Zé Miguel, Paulo Rodrigues / Ana Silva e Sina Key.