O percurso ‘possível’ da edição especial da Volta a Portugal concentrou a montanha a abrir, deixando apreensivo um pelotão sem ritmo competitivo, que ao quinto dos nove dias da prova já terá subido Senhora da Graça e Torre.
Em contexto de pandemia de covid-19, e depois de a organizadora Podium ter renunciado a erguer a 82.ª edição este ano, a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) assumiu as ‘rédeas’ de uma edição especial e chamou o habitual ‘desenhador’ da Volta a Portugal para ‘salvar’ a prova rainha do calendário nacional.
Resultado? Um percurso à imagem de Joaquim Gomes, com um prólogo a abrir, um contrarrelógio a fechar, e as incontornáveis chegadas a Santa Luzia e Senhora da Graça, com a Torre de regresso para desempenhar o papel de convidada especial.
O traçado, que recupera pontos de partida e chegada previstos para 82.ª edição, que deveria ter ido para a estrada entre 29 de julho e 09 de agosto, peca, contudo, pelo excesso de chegadas em alto nos primeiros dias, um senão inevitável perante um formato mais curto da prova (tem menos duas etapas e abdicou do dia de descanso) e a necessidade de começar em Fafe, no domingo, e terminar em Lisboa, em 05 de outubro.
Após quase seis meses de paragem devido à pandemia de covid-19, o pelotão nacional vai enfrentar três chegadas em alto logo nas quatro primeiras etapas em linha, um risco ‘calculado’ que pode significar que, no final da quarta tirada, a geral individual possa já estar definida, com possíveis acertos a serem realizados no contrarrelógio final ou a resultarem de azares envolvendo candidatos, e que, consequentemente, haja um desinteresse do público, ‘obrigado’ a ver a corrida pela televisão.
Coube a Fafe, uma das paragens habituais da Volta a Portugal, a honra de inaugurar esta edição especial, com um prólogo de sete quilómetros que ‘entregará’ a primeira amarela e que é talhado para homens velozes que se dão bem na luta contra o cronómetro.
A versão mais curta da corrida não permite momentos de descanso ou transição e, assim, logo ao segundo dia, os ciclistas enfrentam a etapa mais longa da competição, uma ligação de 180 quilómetros entre Montalegre e o alto de Santa Luzia, em Viana do Castelo, onde está instalada uma contagem de montanha de terceira categoria coincidente com a meta.
O primeiro grande teste às forças dos favoritos está, todavia, reservado para a segunda etapa, que começa em Paredes e termina, depois de ultrapassados 167 quilómetros, no alto da Senhora da Graça, em Mondim de Basto.
Nesse dia 29 de setembro, o pelotão irá ainda enfrentar, antes da subida ao ponto mais alto do monte Farinha, outras duas outras contagens de primeira categoria, na serra do Marão (aos 96 quilómetros) e no Barreiro (131,7).
Os ‘sprinters’ deverão ter uma oportunidade no final dos 171,9 quilómetros da terceira tirada, entre Felgueiras e Viseu, um dia teoricamente ‘tranquilo’ para os homens da geral, antes da jornada que poderá ser a mais decisiva na luta pela amarela: na quarta etapa, há 148 quilómetros para percorrer entre a Guarda e o ponto mais alto de Portugal Continental, a Torre.
A meta, coincidente com um prémio de montanha de categoria especial, será alcançada pela vertente que muitos consideram a mais exigente da Serra da Estrela, a subida de 20,2 quilómetros desde a Covilhã, com passagem pelas Penhas da Saúde. A escalada de segunda categoria nas Penhas Douradas (ao quilómetro 72,5) e a subida de terceira categoria em Sarzedo (111) completam a ‘ementa’ montanhosa do dia.
A quinta etapa, que vai ligar Oliveira do Hospital a Águeda, ao longo de 176,3 quilómetros, dará nova hipótese de vitória aos mais velozes, na véspera de a Volta a Portugal assinalar o cinquentenário da primeira vitória de Joaquim Agostinho, num périplo de 155 quilómetros na região Oeste, entre Caldas da Rainha e Torres Vedras.
Loures, onde a República foi declarada um dia antes do resto do país, em 04 de outubro de 1910, assinala a efeméride com o arranque da sétima etapa, que terminará em Setúbal, já depois de uma subida de segunda categoria na Arrábida, a 13,4 quilómetros da chegada, e de percorridos 161 quilómetros.
No dia em que se celebram oficialmente 110 anos da Implantação da República Portuguesa, Lisboa vai coroar o vencedor da Volta a Portugal de 2020. O dono da camisola amarela será encontrado no final do contrarrelógio de 17,7 quilómetros, que parte da Avenida Ribeira das Naus para chegar na Praça do Comércio, depois de percorridas algumas das artérias mais simbólicas da zona ribeirinha e da baixa da cidade.